O contato humano permeado pela emoção positiva acontece sem a disposição racional – sem intenção/planejamento, principalmente em dois momentos da vida: quando somos bebês ou pais de bebês e quando nos apaixonamos. Acontece também em outros momentos porém a tendência é que seja insustentável ao longo do tempo.
Ele é descrito por várias correntes psicológicas que enfatizam pontos específicos desse contato e a Gestalt Terapia destaca sua importância em vários experimentos englobados sob expressões como “Aqui e Agora” e “Estar Presente”.
A disponibilização da emoção nos contatos interpessoais tende a ser inversamente proporcional ao nível de informação/escolarização e volume populacional do núcleo urbano onde vive o indivíduo. Esses aspectos tendem fazer com que esse tipo de contato pareça negativo, improdutivo e de certa forma ameaçador, fazendo com que as pessoas recolham a afetividade minimizando sua expressão. O incentivo social à objetividade assim como um cotidiano planejado/agendado, praticamente exige que a porta emocional fique fechada e faz com que muitas pessoas deixem mesmo de acessar esse tipo de comunicação. Alhear-se do contato emocional pode ter um preço pois esse contato é um alimento psíquico importante.
Origem:
O mundo psíquico do bebê se resume inicialmente ao campo sensorial e emocional e, em função disso, o contato possível nessa fase é nessas áreas. Por outro lado bebês tendem a “abrir” o campo emocional dos adultos, sendo raros os adultos que não riem ou não sintam prazer ao ver um bebê rindo. O contato mãe-bebê é então sensorial (tato, olfato, audição) e na seqüência, afetivo. O “manhês” é o contato aparentemente verbal, porém que se utiliza das palavras apenas como veículo e não como código, já que o conteúdo não faz sentido para o bebê. O contato (emocional), no entanto, acontece entre mãe e filho com este “respondendo” com vocalizações, assim que tenha prontidão para esse exercício.
É desse contato permeado pelo afeto que o bebê alimenta sua disposição para aprendizagens e desenvolvimento de forma ampla. Bowlby já em 1950 descreveu a apatia e atrofia do desenvolvimento de bebês privados do contato afetivo.
Na medida em que o campo cognitivo se desenvolve, há uma divisão no tempo de utilização de contatos permeados pela emoção e os permeados pela razão. Ao longo da vida pode ocorrer de que os contatos sejam feitos unicamente no âmbito racional (num primeiro nível de análise) ou que o indivíduo se utilize também do contato afetivo.
Paixão:
A paixão “acontece” à esmagadora maioria das pessoas e pode ser mais ou menos intensa em função da disponibilidade individual. Sentimos na paixão o “céu”, o “nirvana”, a “paz”, a felicidade e a excitação do encontro com o “outro”, sensação impressa na nossa “matriz de relação” através das nossas primeiras relações, do período intra-uterino até 2/3 anos de idade.
O “outro” é a imagem do que nos provê e no qual o entendimento é “perfeito”. Há a sintonia de interesses e, principalmente, a compreensão. Podemos dizer que estamos apaixonados porém é comum também dizermos que estamos amando. É a esse estado que damos o nome de “amor”.
É um estado alterado de consciência porque nele não vemos realmente o outro pois ele é frequentemente a projeção da nossa vivência relacional primordial. Esse é um dos motivos pelo qual, ao se dissipar a paixão, fiquemos ressentidos por não recebermos mais a compreensão que o desejo de completude nos leva a querer.
A maravilha daquele céu multicolorido se dissipa na medida que vamos nos conscientizando do “outro” e precisamos estar preparados para subir mais esse degrau da escada do nosso crescimento pessoal, ou a relação torna-se difícil pois se nos mantivermos no mesmo patamar que estávamos quando apaixonados, nos relacionaremos com o “fantasma” que projetamos e não com o “outro” – a pessoa que escolhemos e que “amamos”. O amor ressentido dará origem ao ódio, indicador que a emoção em relação ao outro continua presente.
Ouvir e Escutar:
Essa relação com um “fantasma” do passado e não com o “outro” gera o diálogo de surdos: falamos à ninguém e não ouvimos realmente o que o outro nos diz. Há emoção (e muita) nesses diálogos porém não se fala de emoção para emoção quase nunca, porque o contato não se dá efetivamente com quem está na nossa frente.
Os sentimentos negativos que temos em relação ao nosso par, por ele não agir da maneira que queremos e imaginamos durante a paixão, faz com que cada atitude dele seja criticável (comparada às atitudes do nosso “fantasma”). Há sim uma conexão emocional, porém não agradável, não criadora, não construtiva mas, observe, a conexão emocional está presente!
O estar de mãos dadas, o falar e ser ouvido e mais – ser compreendido -, quase nunca acontece e resta um sentimento de vazio, de solidão, de abandono.
Pode acontecer de um chamar o outro pelo apelido carinhoso ou pela forma criada durante a paixão (bem, amor, querida, paixão, etc.), mas não acontece o vínculo.
Não há disponibilidade para contatar o “outro”; o acesso aos sentimentos de cuidar, ouvir, amar, dar, não está disponível porque acessamos outra área afetiva – por exemplo o quanto não recebemos,não somos ouvidos, não somos aceitos, não temos importância, etc..
Não há intimidade e isso pode representar uma lacuna insuportável.
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