Na terapia de casal é freqüente surgirem situações que podemos resumir em motivadores como: – Não vai ser do jeito dele(a)!
Da mesma forma com que alguns modismos alimentares causam prejuízos (mel é um remédio natural, porém em excesso pode provocar a constipação intestinal), também a questão egoísmo nem sempre é bem interpretada.
Somos egoístas. É natural ser egoísta e, talvez, saudável já que, no limite, o egoísmo é fator contributivo para a manutenção da espécie. Por outro lado alguns textos aqui publicados têm abordado os prejuízos causados pelo individualismo (que tangencia o egoísmo em alguns aspectos).
Não vai ser do jeito dele(a) expressa um pouco o quanto o individualismo associado ao espírito competitivo insuflado pela nossa Ordem Social deteriora as relações que deveriam ser de afeto.
Misturamos o que seria a defesa de si mesmo, com o egoísmo saudável, uma dose natural de orgulho, a auto-estima benvinda, com a competição pregada como valor na sociedade em que vivemos e, em uma única frase emitida em segundos, abrimos uma chaga no relacionamento (afetivo?) de difícil cicatrização.
As regras que regem um relacionamento amoroso devem conter obrigatoriamente o afeto em destaque, caso desejemos que esse relacionamento seja intenso, gratificante e duradouro.
Não vou me humilhar! Por que não? Naturalmente não será gratificante o relacionamento que vive pela humilhação constante de um dos pares, porém humilhar-se pode ser, em situações específicas, um ato de amor, que demonstra o interesse e esforço em direção da manutenção saudável da relação (principalmente se o outro souber compreender isso). Naturalmente o humilhar-se não seria necessário diante de um bom grau de sensibilidade do outro, porém na sua ausência, engolir o orgulho pode ser uma atitude construtiva, inteligente e de alta qualidade. Em um relacionamento saudável, o humilhar-se deveria provocar no outro o sentimento de humilhação (por não ter sido capaz de parar antes que a humilhação fosse necessária!).
Naturalmente este texto não tem como objetivo apregoar a necessidade de humilhar-se; o bom relacionamento pressupõe que nenhum dos dois deva humilhar-se. O que vem ocorrendo de forma mais freqüente, no entanto, é que nos caso onde ocorre a divergência de opiniões, caminha-se rapidamente para o confronto e de forma quase automática para a disputa: competimos para vencer o outro e/ou para garantir que “não vai ser do jeito dele(a)”.
Este é um reflexo das disfunções que surgem provocadas pelas mudanças ocorridas nos papéis sociais dos gêneros masculino e feminino nas últimas décadas e a sensação de que ceder é o mesmo que humilhar-se instala-se no casal de forma quase definitiva. Quando isso acontece é necessário rever o relacionamento (com humildade) ou o competir levará o que poderia ser um encontro nutritivo, ao desastre.
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