Tem o nariz do avô e as pernas tortas do tio.
A herança física é, muitas vezes, bem visível e não incomoda por ser aceita como obra da natureza. Possíveis alterações só podem ser feitas com a cirurgia plástica e esta muda apenas o mecanismo de transporte do Eu (o corpo); não muda o Eu. Antes do nariz adquirir importância, no entanto, já pode ter ocorrido preocupações com a estatura, o peso, a cor da pele, dos olhos, o tipo do cabelo, etc.
Ao nascer uma criança tem um certo destino quanto à estatura. Em função de sua herança genética ela poderá ter, quando adulta, por exemplo, entre 1,55 e 1,70 metros. O que definirá se ela terá 1,55 ou 1,70 metros será a alimentação, atividade física adequada, etc. Duas crianças com um mesmo destino quanto à estatura poderão, dessa forma, chegar à idade adulta, uma com 1,55 metros (lamentando-se da sorte) e outra com 1,70 metros (explorando todo o seu potencial de crescimento).
Isso demonstra que o DNA, que é o programa que define o que e como será a pessoa, não determina rigidamente o que deve acontecer; ele dá apenas a diretriz básica e deixa que outros fatores (decisões e ações pessoais) forneçam o acabamento final.
A cor dos olhos, da pele, o tipo de cabelo podem, eventualmente, trazer algumas surpresas. Se ambos os pais tiverem olhos castanhos, o filho pode ter olhos verdes desde que, naturalmente, seus pais, apesar de possuírem olhos castanhos, tragam em seus gens, o comando (herdado de seus pais) da cor verde para os olhos. Mesmo tendo olhos castanhos um casal pode ter ascendentes com olhos verdes e, por isso, serem transmissores do gen recessivo para olhos verdes e terem filhos com olhos verdes.
A maneira de andar, de sentar, de falar pode também, em alguns casos, ser exatamente como a de um parente próximo. Quando acontece de um traço herdado não ser físico, a reação é de admiração pela constatação de algo para o qual a pessoa não está preparada e não encontra uma explicação.
Comportamentos mais complexos ficam, muitas vezes, como se não tivessem relação com a herança familiar. Não é difícil, por isso, encontrar alguém que não tenha nenhuma consciência de sua herança genética (é um segredo para si).
Atualmente, pelo grande desenvolvimento das pesquisas genéticas, há uma maior divulgação das descobertas nessa área. O interesse que a matéria desperta, no entanto, é muitas vezes exterior, como uma notícia internacional de algo que aconteceu em um país longínquo e estranho e a pessoa não chega a considerar o quanto ela está envolvida nessa informação.
O que é comum é a percepção de que há uma herança genética quanto ao aspecto físico: o nariz do avô, as pernas do tio e assim por diante. Quando a semelhança não é muito evidente considera-se mesmo que o nariz foi produzido com uma grande mesclagem dos pais. A pessoa que está inconsciente de sua herança comportamental pode, eventualmente, ouvir de alguém: -“é o mesmo gênio da avó Conceição” e, mesmo assim, não conseguir desvendar essa informação como um recurso que poderia tornar suas ações mais produtivas. Pode também ter uma forte identificação com um membro da família (um tio, o avô já falecido) mas não aprofundar seu conhecimento do motivo dessa ligação. Por quê?
1 – Cada pessoa é única, não só em seus traços físicos como também em sua personalidade e, por isso, aparentemente (apenas aparentemente) nada foi herdado dos antepassados.
2 – A sociedade utiliza o mínimo da capacidade produtiva dos indivíduos e não precisa, então, oferecer informações que levem ao desenvolvimento de todo o seu potencial.
3 – Cada indivíduo sabe de sua existência apenas pela mente consciente (mesmo os sonhos não são valorizados ou são interpretados como uma mensagem; raramente são considerados como elaborações de si mesmo porém desconhecidas, isto é, inconscientes). A mente consciente, apenas, é o que é reconhecido como o Eu.
4 – Socialmente a pessoa vale o quão bem ela é capaz de pensar no sentido de produzir bens e/ou quanta informação ela tem: é inteligente, esperta ou é médico, professor, engenheiro. Pouco se fala de alguém que conhece muito de si mesmo e, consequentemente, consegue lidar muito bem com seus impulsos, suas reações e com diferentes pessoas, nas mais diversas situações. Não se diz que conhecer a si mesmo é um passo em direção ao equilíbrio nem que o bom profissional pode saber muito menos que o mau, porém ser mais honesto, humano, e, por isso, obter melhores resultados. Não se fala em conhecer-se porque o pressuposto no item 3 é que não há nada mais a conhecer de si mesmo.
“Eu sou aquilo que penso , logo, eu sei tudo de mim mesmo”.
Essa frase pode ser dita por algumas pessoas mas representa apenas seu nível de inconsciência. Elas esquecem que:
Se a união do nariz da minha mãe com o nariz de meu pai deu origem ao meu nariz, diferente de cada um deles mas, da mesma forma, um pouco semelhante aos dois, por quê não, a união do gênio forte do meu pai com a doçura de minha mãe delinearam minha personalidade?
Por que a angústia que levou meu avô a ter úlceras não é a mesma aflição que gerou a úlcera de meu tio quando esteve naquela situação difícil?
Por que o desejo de justiça que levou meu pai a ser policial no início da vida profissional não é o mesmo motivo que levou meu irmão a ser advogado?
Por que uma pessoa contrai tuberculose sem ter tido contato com alguém portador do bacilo? O bacilo está em qualquer lugar? Por que alguém que cuida de um tuberculoso não contrai o bacilo? A pesquisa laboratorial genética avançou velozmente nos últimos anos mas, em relação ao que se pode conhecer pesquisando árvores genealógicas, ela está apenas engatinhando.
Na década de 90 os jornais estiveram sempre noticiando as descobertas do campo genético:
– alteração no cromossomo X de gêmeos indicam a homossexualidade (EUA)
– Família holandesa é portadora do gen da agressividade
Noticiadas dessa forma, essas informações, como de resto a maioria das informações, atendem à necessidade do nosso raciocínio mecanicista fracionário. Elas nos levam a pensar que uma determinada matéria leva a um (único) determinado resultado.
Comentário
Nenhum comentário.