É muito frequente a dúvida: – O amor acabou? Ou então a afirmação como sendo uma justificativa: – O amor acabou!
Não é difícil um esclarecimento.
É bem possível que na pré-história os relacionamentos surgissem por atração ou principalmente por oportunidade. Quando a humanidade se estruturou através dos poderes (físico, político, econômico, etc.), os relacionamentos passaram a surgir dos arranjos paternos. A nós, do século XX (e XXI), a sensação é de que os relacionamentos sempre surgiram “por amor”, e isso não é real. “esfriou”; nos tornamos “só” amigos; não há mais interesse sexual; não amo mais; não sou amado(a). É necessário enfrentar essa questão.
Essa liberdade de escolher o “outro” e a justificativa disso depositada no amor romântico tem menos de 200 anos. Podemos então bendizer esse privilégio porém ele nos colocou esse dilema moderno cujos sintomas frequentemente aparecem sob as frases: a relação
Todos sabemos que nossos sentidos são seletivos: nossos olhos não vêem tudo o que é “visto” – só vemos o que nos interessa. O mesmo ocorre com a audição – há um número enorme de ruídos e não nos atentamos a eles, inclusive porque isso nos ocuparia muito! O tato idem – você não tem consciência do contato da sua roupa com seu corpo (a não ser quando tocamos nesse assunto). Bem, na verdade não são “os sentidos” que são seletivos, e sim nossa mente. Nossos órgãos dos sentidos captam as informações, nosso cérebro as recebe e processa, mas nossa mente só se atém àquelas que nos interessam no momento (e às vezes nem isso!).
Somos então seletivos: selecionamos a que vamos dar atenção ou: dedicar nossa atenção, ou dedicar nosso tempo, nos dedicar!
Se colocarmos um maravilhoso quadro na parede de nossa sala, toda vez que entrarmos nela daremos uma olhadinha nele – com prazer, orgulho, interesse – dedicação. Meses depois…
Na paixão, pelos motivos já detalhados em “Contato Emocional – Intimidade” é um prazer nos dedicarmos ao “outro”; nos faz bem nossa dedicação, se bem que gostamos também da atenção que recebemos. Estamos, então, atentos ao outro, gastamos tempo com ele, “curtimos” isso. Nesse momento não avaliamos o quanto estamos recebendo do outro porque recebemos ao dar! Uma comparação minimalista é um casal no Shopping – a mulher procura uma blusa e o marido apenas acompanha. É freqüente que o marido se canse, se exaspere com a busca (se não estão apaixonados), porque é ela que tem interesse e se diverte na busca; para ele essa busca é apenas custo – não há prazer algum.
No relacionamento afetivo acontece o mesmo. Com o tempo nossa mente se adapta á presença (ações, conversas, etc.) do outro e seleciona: isto não é importante, não tem graça, não dá mais prazer. Caímos no automatismo de parar no semáforo vermelho, sem mesmo tê-lo “visto”!
Para manter uma relação afetiva por longo tempo é necessário então estar consciente dessas armadilhas e colocar em ação aquilo que nos destaca dos demais animais: nossa elevada capacidade de antevisão, planejamento e objetivação. Queremos um relacionamento gratificante? Precisamos construí-lo… e mantê-lo. Esse é um dos pontos frequentemente abordados na terapia de casal. Gastar alguma energia nessa manutenção é coisa que poucos casais fazem (veja em “A Relação Cresce, ou não”) A maioria espera que “o amor” resolva (ou não!).
É dessa forma que o amor acaba, sim, quando deixamos de despender atenção a ele (a ela, ao “outro”). O amor se reduz na exata proporção em que se reduz nossa dedicação – e nossa seletividade já deixa de perceber o “outro” – ele já não é um estímulo. Deixamos que isso aconteça. Deixamos o amor ao acaso, ao “que der e vier”, ou à natureza, esquecendo que um relacionamento afetivo-sexual duradouro e gratificante é uma utopia que intencionalmente escolhemos buscar, isto é, depende então de nossas atitudes o atingimento ou não do nosso objetivo. Muitas vezes nos lamentamos da sorte: “não deu certo”. Bem, deixado ao acaso não dá certo mesmo (nunca ou quase nunca), pois amar não é sorte, é competência.
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