Mencionei em outro texto (Libido, Sexo, Erotismo, Afeto e Casamento) que a maioria dos homens que busca solução para impotência não apresenta disfunção orgânica/hormonal e muitos sequer têm dificuldades com a ereção ou orgástica. Os que buscam tratamento (e muitos não o fazem), saem com a receita de um antidepressivo e algum complexo vitamínico. O que ocorre?
Entre os 40 e 60 anos podem surgir:
- Flashs sobre o quanto não se realizou e, o mais difícil, o quanto as possibilidades de ainda realizar se encerraram ou vão se encerrando irremediavelmente. O homem, cuja “realização” é medida principalmente de forma concreta – uma realização material, aos 55 anos pode ver claramente que sua luta não será mais por aquisições e sim pela manutenção do já adquirido.
- Declínio natural do élan-vital (energia/combatividade).
- Percepção de que os caminhos escolhidos para sua trajetória de vida não foram os mais adequados.
- Sentimento de que uma ou mais de suas crenças foram apenas ilusões (decepção).
Esse é o luto pela perda da própria vida. É a base de sustentação da depressão, cuja intensidade varia em função do quão profunda e freqüente são as percepções acima. A impotência consiste na maioria dos casos, na falta de libido provocada por esse novo foco da atenção.
O primeiro diagnóstico de impotência é dado, também na maioria dos casos, pela esposa, ao notar que é procurada cada vez com menor freqüência (quando não há uma queda abrupta dessa procura). Não é feita uma distinção entre impotência e falta de libido. Essa descoberta pode definir o prognóstico em função de como ela reagirá.
O ideal é que se mantenha a comunicação, a intimidade e o afeto e juntos avancem para esse novo patamar de suas vidas.
Caso, ao contrário, a esposa resista em avançar esse degrau (o que é muito estimulado pela ordem social através da hipervalorização da “juventude”) e o defina como impotente e exija que ele “resolva o problema” consultando um especialista, provocará nele a ampliação da decepção (item 4 acima) sobre um dos pilares mais importantes que sustentaram sua trajetória de vida e, em função disso, mesmo que a depressão se arrefeça eventualmente, a decepção com a parceira prevalecerá, perpetuando o “problema”.
A falta de sensibilidade que a esposa criticava em seu comportamento quando eram mais jovens, agora é vista por ele no comportamento dela, abrindo espaço para o sentimento de abandono/rejeição e de ilusão de sua percepção anterior em relação à sua parceira.
O homem alterou significativamente seu foco de atenção e está sensível às questões emocionais; pode pensar: “ela me vê como uma máquina que produz dinheiro e orgasmos”. Pode estender esse sentimento ao gênero e passa a ver toda mulher como desprezível, da mesma forma que alguns homens que optam por relacionamentos homossexuais as vêem, como por exemplo no seguinte texto que mantenho anônimo (perceba o sentimento por trás das afirmações):
– “As mulheres fazem uso de uma falsa imagem de delicadeza e hipo-suficiência, cristalizada na sociedade, para auferir vantagens pessoais. São como aranhas que mantêm viva a presa, enovelada, até a hora de comer. São como as cobras e serpentes, distraiu elas mordem.
Mesmo no amor dito maternal, acho que a mãe protege o bebê por razões menos nobres do que se propala.
No trânsito, não vejo mulher gentil. Elas são as mais grosseiras no dia-a-dia. Mesmo entre elas, são muito cruéis umas com as outras. Tudo isso disfarçado de doçura e delicadeza.
Têm um interesse utilitarista no homem, usam o homem.
Nos últimos 150 anos a mulher emasculou o homem. Para conquistar sua liberdade, ela suprimiu a nossa. Hoje é pecado, quase pejorativo ser homem. Os homens têm que fingir quase ser mulheres para não serem ridicularizados.”
Pode também optar por manter seu comportamento padrão, simplesmente para não mudar (devido à redução da combatividade), porém em um quase total alheamento afetivo. Poderá optar pela masturbação ou relações sexuais extra-conjugais (quando da exigência biológica) numa tentativa de evitar confrontar-se com a fonte de sua decepção. Aceitará o rótulo de impotência, muitas vezes sem questionar, para não remexer questões que para ele são mais difíceis de suportar.
Esse é um relacionamento que possivelmente quase nunca foi muito íntimo ou afetivo, mas nesse momento atinge o máximo de sua aridez.
A psicoterapia de casal pode ser uma alternativa para reabrir o diálogo e o entendimento do que está ocorrendo, o “como” realmente é o outro quanto aos sentimentos e emoções. Caso queiram, juntos poderão enfrentar essas dificuldades.
Comentário
Nenhum comentário.