Insistimos em categorizar de forma estanque a Síndrome do Pânico, o Distúrbio Bipolar, a Depressão, a Ansiedade (Stress – Estresse) e um número enorme de outros comportamentos disfuncionais como a hiperatividade e outros distúrbios de atenção e mesmo alguns de aprendizagem.
Distinção: Algumas dessas disfunções ocorrem por alterações anatômicas, disfunções bioquímicas cerebrais de origem desconhecidas, resultados perversos “naturais” e/ou acidentais, com pequena incidência (<1%).
Na maioria dos casos, no entanto, mesmo que seja verificada a ocorrência de disfunção nos neurotransmissores, a origem está na mente e não no cérebro: uma estrutura relacional disfuncional construída na gestação/primeira infância acaba por determinar relações eu-mundo inadequadas e insuficientes para que sejam desenvolvidas relações positivas e construtivas com o que é externo ao indivíduo. Dessa forma a relação entre o mundo interno e o mundo externo é áspera e negativa, o que leva à alteração do processamento cerebral (estupefação, ansiedade, adaptação cerebral à inadaptação mental).
Em função disso faz-se necessário distinguir também fatores genéticos e hereditários. Muitos casos ocorrem por transmissão psíquica que ocorre na relação parental, principalmente na gestação e primeira infância. A transmissão genética ocorre quando os sintomas estão presentes familialmente há várias gerações.
A depressão – o mal do século – é o exemplo típico. Disfunções bioquímicas podem ser observadas, porém o número de casos existentes é muito maior que o esperado considerando apenas as ocorrências fortuitas. Vemos o diagnóstico de depressão nos casos onde há a identificação de aspectos sociais influentes, nas perdas e lutos (presença de fatores objetivos) e outros casos específicos.
A uma perda deve corresponder um período de luto (tristeza ou outra reação), o que é produtivo pois a pessoa precisa processar o acontecimento e recompor sua vida nas novas bases. A depressão real, no entanto, carece dessa objetividade; ela não apresenta nenhum ponto de apoio objetivo ou, se apresenta, esse ponto carece de consistência, o que indica a disfunção relacional: o externo não oferece o reconhecimento – base da existência.
O Distúrbio Bipolar, até a pouco chamado de PMD (personalidade maníaco-depressiva) apresenta freqüentes falhas de diagnóstico pois a pessoa sente-se muito bem na fase de euforia, onde sua busca de reconhecimento é intensa, e procura ajuda apenas na fase oposta, na depressão, quando sua ação é fortemente rebaixada pelo sentimento depressivo de: não vale a pena.
A Hiperatividade assim como outros distúrbios de atenção podem ter a mesma origem, sendo a hiperatividade a busca ansiosa pelo reconhecimento e o alheamento, a depressão da atenção (alheamento ao externo).
Aparentemente diverso desse grupo está a Síndrome do Pânico. Apenas aparentemente. A disfunção relacional está presente, porém não na relação de superfície, que continua a ocorrer de forma no mínimo satisfatória. Na Síndrome do Pânico a pessoa assiste suas relações (com o externo) se deteriorando, emocionalmente percebe esse fato, porém racionalmente não consegue admitir essa possibilidade, inclusive porque não vê alternativas de mudança. Dessa forma ocorre a elevada ansiedade (e a decorrente sensação de vertigem, suores, necessidade de sair do ambiente), assim como aspectos da depressão, que são superados freqüentemente pela necessidade de ação, e daí novamente a ansiedade.
Exceto a depressão, esses distúrbios são mais presentes nas grandes cidades onde voltar-se mais para objetos e não para pessoas é quase uma necessidade e como decorrência temos que a gratificação direta na relação como o “outro” é menos freqüente (daí a erupção nos adolescentes e adultos). Como efeito perverso temos ainda o prejuízo nas relações mãe-filho na gestação e primeira infância (origem da matriz de relação, que pode desenvolver a estrutura adequada à erupção desses distúrbios).
Nossa forma de pensar tem influência significativa da filosofia cartesiana e não me refiro à lógica matemática, mas á divisão do objeto de estudo em partes que, em decorrência, torna essa separação uma “verdade”.
É o que fazemos ao observarmos o comportamento e estratificá-lo em aspectos que nominamos e, a partir disso, conseguimos compartimentalizar, podendo então perceber e aceitar como sendo “doenças” específicas, esquecendo que, na realidade, temos um todo – uma pessoa inteira – reagindo do seu modo particular e específico aos estímulos recebidos.
Comentário
Nenhum comentário.