Em muitos anúncios de emprego lê-se: – Bom ambiente de trabalho. O que se quer dizer com isso?
Vez ou outra ouço alguém dizer: – Ela é muito amiga.
Dos relacionamentos conjugais ouço: – Ele é um ótimo companheiro. e – É bom pai de família, mas como marido…
Essas afirmações referem-se a alguns dos aspectos de uma relação que indicam aspectos de sua qualidade.
Um relacionamento, seja ele de qualquer âmbito e intensidade influencia significativamente a nossa qualidade de vida
não só durante sua vigência como também nos “habitua” à essa qualidade, definindo também nosso futuro. Um relacionamento no qual somos subestimados pode reduzir nossa auto-estima e conseqüentemente nosso empenho em alçar vôos mais altos, por exemplo.
É por isso que o que somos, em boa parte se deve aos relacionamentos que mantemos.
“O grande elefante não anda pelo caminho dos coelhos” diz um verso do Shodoka, um poema Zen do século XVI, da mesma forma que Paul McCartney escreveu: “The love you take is equal to the love you make” (The End – 1969) e isso quer dizer que, mesmo sem termos consciência disso, vivemos “em relação” a alguém/alguma coisa e isso acaba por definir a qualidade da nossa vida. Aprendemos (copiamos) e nos tornamos melhores ou piores, através das relações que estabelecemos.
Apesar disso nem sabemos ao certo como definir a boa qualidade de um relacionamento. Vamos ver algumas de suas características:
- Aceitação (respeito) à pessoa por inteiro, suas forças e também às fraquezas. Naturalmente este e os outros aspectos precisam ser recíprocos. É fácil desejar ser aceito, porém não é tão fácil aceitar.
- Nutriência – o relacionamento nutre, fortalece, acrescenta. Essa característica também “não cai do céu”. É preciso dedicar-se ao outro para que no dia-a-dia possamos agir de forma nutritiva a ele.
- Estímulo – (não é “desafio”) O relacionamento impulsiona ao desenvolvimento/crescimento e isso é saudável aos dois. O estímulo pressupõe a crença na capacidade do outro e se apóia no desejo de que o outro alcance algo.
- Parceria – “par”, mesmo em meio às diferenças individuais, há a soma das características de cada um, resultando em algo maior/melhor que cada individualidade. Há uma inócua discussão quanto a se tornar “um” no casamento ou manter a individualidade. Essa discussão é inócua por não se aplicar ao âmbito em que os relacionamentos se desenvolvem. Naturalmente a individualidade sempre existirá, porém um relacionamento de vínculo forte implica em relatividade, isto é, um se sente relativo ao outro.
- Alegria – disposição para agir descontraidamente, construtivamente, aproveitando o que há de positivo em cada situação. Vários aspectos (inclusive pessoais) impedem que um relacionamento mantenha a leveza e descontração, como por exemplo, um exacerbado senso de responsabilidade, um desenho do “papel” inadequado, etc..
- Contato emocional – sensibilidade e discriminação afetiva contribui com o clima da relação, mas muito mais que isso: influencia a força do vínculo.
- Intimidade – é a possibilidade de nos revelarmos ao outro (segurança de sermos entendidos/aceitos) que define a força do vínculo. Quando não nos sentimos seguros para avançar na intimidade, o vínculo não se fortalece. A carência de intimidade é uma das variáveis que contribuem para que exista o “pé atrás”.
- Compromisso – se o “antigo” casamento foi modificado pela sociedade porque não correspondia às necessidades modernas, temos também de aceitar que ele possuía algumas características positivas. Uma delas era a explicitação e formalização do compromisso. O compromisso deve existir primeiramente consigo mesmo para, em seguida, se estender à relação. A ausência do compromisso não impede um relacionamento, mas debilita outros aspectos importantes para seu fortalecimento e/ou continuidade.
- Direitos e “justiça” – NÃO é um atributo dos relacionamentos o equilíbrio contabilizado dos direitos e deveres. A regra que define a elevada qualidade de um relacionamento não é a da disputa por espaço e vantagens e sim uma “ilógica” norma que afirma que se está ganhando ao se entregar. Um exemplo dessa regra é o que tende a ocorrer na criação dos filhos: ao se oferecer o melhor já estamos sendo recompensados; não há a expectativa de retribuição, não é algo que se contabiliza nem se deseja que seja “justo”. Importa o fazer e não o receber.
- Auto-conhecimento – Quanto maior o auto-conhecimento mais se é capaz de calar quando isso se faz necessário; maior a capacidade de antever que determinadas atitudes não serão produtivas no médio prazo; maior a possibilidade de saber que a emoção do momento é produtiva ou não para os próprios objetivos e que o orgulho é importante em disputas, porém estas não fazem parte deste âmbito da sua vida.
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