Alguns se lembram da maçã que no Jardim do Éden causou a cisão entre Deus e os Homens, ao ouvirem a expressão “pomo da discórdia”. Mais freqüentemente cita-se a mitologia grega com a deusa Discórdia enviando uma maçã com a inscrição “para a mais bela”, gerando a discórdia entre Hera, Atena e Afrodite.
Entre os casais não é fácil saber onde está o pomo da discórdia. Um exemplo:
Ele gostava de pães. Sempre trazia para casa, além do pão tradicional, um pão italiano, outra vez um pão sovado, pão de leite, bisnaguinhas e também pão-doce. Passaram-se os anos – décadas e sua esposa, pensando em agradá-lo, trazia sempre pães franceses para seu café e pão italiano numa sexta-feira ou sábado, pensando em um patê. Acontece que passaram-se anos – décadas e ele… mudou. Olhava para os pães franceses e os comia com o café da manhã, não porque gostava ainda de pães, mas porque não gostava de vê-los se estragarem. Como os comia, sua esposa continuava sempre a trazê-los.
Ele havia mudado. Preferia agora o pão integral, não pelo sabor, mas porque era mais facilmente digerido; sentia-se melhor comendo-os ao invés do pão tradicional de farinha “branca”. O pão italiano… bem, seus dentes já não eram adequados e comê-los era um exercício de atenção e cuidado.
Não dizia para a esposa que não queria mais esses pães, para não magoá-la ou para não ficar sem esse “cuidado” que gostava de receber. Sentia, paradoxalmente, que não era “cuidado” e que não era percebido com atenção, pois ela “já não o conhecia” e “cuidava” com um automatismo que, a bem da verdade, significava desatenção. Cada pão trazido reafirmava para ela “estou cuidando” e para ele “não estou sendo visto”.
Cada casal que se afasta, que tem o vínculo fragilizado, tem um “pomo da discórdia” diferente e freqüentemente diminuto e mesmo risível como o descrito acima. Pode ser difícil identificá-lo e principalmente assumir a grande importância de um detalhe tão pequeno. O que todos podemos ver, no entanto, é que o verdadeiro pomo da discórdia não é algo concreto e sim algo intangível. Algo que nasceu de algo que tínhamos (recebíamos) e nem percebíamos, mas que ao ser perdido deixou um vazio imenso.
Quando há um real encontro o que nos atrai é a percepção de que somos queridos: – ele(a) me quer – é o sentimento mágico que nos faz… querer. Freqüentemente o pomo da discórdia é o sentimento de desatenção, de não ser querido(a) e a fonte desse sentimento tende a ser falsa ou frágil demais para ser levada a sério racionalmente. Ela pode estar em qualquer lugar. Vamos procurá-la?
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