Não são poucas as mulheres que conforme o conto de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, assumem o papel de “salvar” o homem. Da mesma forma é freqüente que o homem assuma o papel de rude (tosco na linguagem atual), egoísta, mau.
Ele não sabe se vestir? Ela dará um jeito – no namoro, com presentes… O homem, por seu lado, assume o papel da fera – tosco, mas principalmente atemorizante (às vezes ao menos). Ele se enfurece, grita!
O papel da Bela é humanizar aquela besta-fera e, ao fim da história, viverem felizes para sempre – pois ela “venceu”. O papel da “besta”, por seu lado, é continuar sendo uma “besta-fera”. Como no castelo desse conto, todas as pessoas – os empregados e seus filhos – são apenas utensílios (não no conto, mas na realidade, a “Bela” também pode ir tornando-se um utensílio ao longo do tempo).
Esse é um cenário típico de uma terapia de casal.
É comum que não estejamos com o “outro” porque queremos estar com o outro, e sim… por quê mesmo?
Quando já estamos com o outro não temos mais o impulso – o querer – estar com ele; simplesmente estamos; nos resta a queixa de quanto o outro não nos atende, não é como gostaríamos que fosse. Na história, no entanto, a “Bela” não esmorece!“
A Bela e a Fera” é um sugestivo conto de fadas e na realidade, tanto olhando de forma romântica ou racionalmente, nos parece “bom” que o homem seja humanizado, liberto do feitiço da bruxa pelo amor que a Bela tem por ele, mas também pelo amor que ele passará a ter por ela. O homem (fera) descobrirá o “amor” e esse é seu único caminho até à humanização!
Como em qualquer viagem turística, o que importa não é chegar e sim todo o passeio. Isso inclui o percurso que, em um feriado prolongado, pode ser lento dado o volume de pessoas buscando o mesmo destino. É assim na relação afetiva na qual o tom maior seja o mito d’A Bela e a Fera; o que importa é a viagem – o percurso – a relação onde há o empenho construtivo feminino de “humanizar” o parceiro e o empenho masculino em resolver “na raça”, as dificuldades do dia-a-dia, enquanto é levado em direção à humanização – vale a dedicação à essa tarefa e não apenas o “chegar lá”.
“Cansei”, já ensinei mil vezes e ele não aprendeu – não tem jeito! Esse é o único final possível dessa tarefa (o outro não é um final e sim o abrandamento). O mito, no entanto, continuará existindo.
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