É fácil sentir irritação, raiva, preguiça; amor é mais difícil. Em parte isso se deve à correria da metrópole e à ordem social que incentiva a competição. Competir é uma forma de nos protegermos, coerente com nosso instinto, já amar é entrega e isso nos deixa inseguros.
Pior que isso é que criticamos os sentimentos (bons) com um pejorativo clichê: “romântico”! Apesar disso tudo queremos nos sentir amados.
Amar é uma ação individual que confundimos com o sentimento (amor), logo não está em uma outra pessoa e sim em nós mesmo. Amar (sentir o amor) acontece em um real encontro com uma outra pessoa. “A vida é a arte do encontro” escreveu Vinícius de Moraes. De que encontro falava o poeta? Falava do encontro da sua emoção (sentimento) positiva com a emoção positiva de uma outra pessoa. Um toque, ser afetado (afeto) pelo outro, um contato direto emoção-emoção! Em função disso não deveríamos dizer que “ama alguém” e sim que “ama com alguém”.
O cinema explora muito o encontro. Em “A Corrente do Bem” (Pay it Forward, 2000) há inúmeros exemplos de pessoas que precisam conectar sua emoção à emoção do outro para decidir ajudá-lo. Em um deles um viciado percebe alguém que está prestes a saltar de uma ponte (suicídio) e tenta “salvar” essa pessoa conversando com ela. É curiosa sua última frase: “Não salte; salve a minha vida”. É o ponto mais explícito, no filme, indicando a importância do contato emocional.
Em “Noites de Tormenta” (Nights in Rodanthe 2008) Richard Gere é incentivado por Diane Lane a fazer um contato emoção-emoção com uma pessoa que o estava processando por erro médico e, como seria esperado, vê-se desenvolver também o “encontro” entre Gere e Lane.
De forma abusivamente explícita o filme “O Quinto Elemento” (The Fifth Element , 1997) fala da importância do amor (salvação do mundo) e que o quinto elemento não é uma pessoa e sim o amor, além de mostrar a dificuldade do Bruce Willis em acessar sua emoção.
Vivemos correndo e nos protegendo dos riscos que a vida nos apresenta e aprendemos a temer nossas emoções positivas como se elas nos tornassem vulneráveis (não percebemos que ao desconhecê-las é que ficamos vulneráveis). Instintivamente, no entanto, queremos ser amados e podemos buscar isso de maneiras bem erradas. A natureza pode, eventualmente, nos surpreender com uma paixão. Essa é a oportunidade de dar um salto e ampliarmos nosso repertório e finalmente aprendermos a amar (abrir o canal que estabelece relações emocionais positivas)… ou não. Podemos esquecer o contato emoção-emoção e cair em um relacionamento burocrático, mesquinho ou áspero e obter um átimo de emoção no sexo.
Como retomar o “amor”? Olhe nos olhos e tente “sentir” o outro.
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