Não esqueça que, na sua vida, você deve ser o protagonista e não o figurante. Sim, não somos uma ilha e sempre dependeremos de outras pessoas, mas daí a pensar que o culpado é sempre o outro… Temos que admitir que o outro tem sua culpa, obviamente, mas nem sempre o outro é o único responsável (também obviamente).
Estou falando de uma síndrome, uma neurose (freudiana) ou um complexo (junguiano), no âmbito individual e inconsciente (no campo cego da visão), que determina o comportamento (e consequentemente o “destino” szondiano) de alguns indivíduos e também a “cultura” de um grupo de indivíduos.
Pensar que não temos o que queremos por culpa do outro é visto hoje como vitimismo.
Como a maioria dos comportamentos estereotipados, o vitimismo também se instala através da forma como se vivenciam determinadas experiências e o ganho que se obtém delas. O ganho obtido ao se vivenciar o papel de vítima pode ser angariar simpatia, isto é, sentir-se reconhecido, “amado”. Busca-se, então, repetir essa situação e desenhar o mundo com esse formato; o Estado pode ser visto como o “pai protetor” que deve suprir suas necessidades; a polícia é vista como o “pai” crítico e severo que pune (injustamente dentro dessa visão).
A vida, dentro dessa síndrome, ocorre apenas em função da atitude do “outro”, o personagem principal, e o indivíduo se vê como um figurante. Alguns se colocam no papel de “coitadinho” e apenas sofrem, outros buscam compensar essa inferioridade assumindo o papel de rebelde. Não se trata porém de uma rebeldia objetiva sobre questões concretas que objetivem assumir o protagonismo da sua vida e sim uma resposta ao protagonista: o outro (eles). A pessoa pode lutar para defender causas tidas como nobres, mas realmente nunca luta para defender diretamente seus interesses (considera “feio” defender seus interesses, talvez porque não se ache capaz de defender seus interesses dignamente).
É comum, nesses quadros, lutar-se pela “justiça” e por “direitos”. Aparentemente é uma luta nobre, porém esses conceitos são sempre distorcidos pois se pensa em uma “justiça” absoluta e não em nossa falível justiça humana que trata do cumprimento ou não das leis, que no mais das vezes foram criadas sob determinada “cultura”. Da mesma forma o “direito”: ter direito quer dizer apenas que você pode alcançar e não que lhe será dado; se todos tem o direito de ter uma casa ou um automóvel essa casa ou automóvel lhe será dado? O indivíduo que vivencia o mundo sob a síndrome do vitimismo não entende que o “direito” de possuir algo é como a “possibilidade” de possuir, mas a posse dependerá de atitudes que o levem a ela. Ele não pensa nas suas atitudes e sim na atitude do protagonista, do personagem principal, que lhe dá ou lhe nega algo.
É visível essa síndrome nas relações pais e filhos, entre amigos, marido e esposa ou na relação com a sociedade mais ampla, neste caso em agrupamentos (clubes, organizações empresariais, partidos políticos).
Sob essa síndrome a pessoa pode viver infeliz e culpar o outro, permanentemente, sem ousar mudar o próprio comportamento (minha vida é uma droga, mas a culpa é do outro!). A pessoa não vai em busca do que lhe interessa a não ser que essa busca implique em alterar o status do outro, por exemplo:
- Ele (a) não me ama. Ele(a) precisa mudar sua atitude e passar a amar-me.
- Ele(a) prefere sair para se divertir com amigos e não comigo.
- Meu chefe não me dá aumento.
- Eles não curtem meus “posts” no Facebook.
- Eles não me convidam para o happy hour.
Se as coisas não estão acontecendo do jeito que você gostaria, de nada adianta esperar que o(s) outro(s) mude(m) seu comportamento; é você que precisa mudar o seu.
Comentário
Nenhum comentário.