Nesta época de intensa troca de opinião nos meios digitais surgiu um grande debate sobre o “politicamente correto” e o preconceito. Como tendemos a nos posicionar com a maioria acho importante discutir em detalhes esse tema.
1 – Não há nada de errado no preconceito: Pré conceber algo é positivo. Fazemos isso o tempo todo. É uma atividade inteligente, envolve a imaginação e a criatividade. Quem vai construir uma casa precisa pré concebê-la, desenhá-la, criar alternativas para otimizar espaços, reduzir custos, torná-la bonita. Quem vai à uma entrevista de emprego precisa pré conceber que perguntas lhe serão feitas e qual a melhor maneira de respondê-las.
Nos acostumamos a pré conceber porque isso nos é muito útil!
2 – Preconceito e discriminação: Discriminar tem o mesmo radical latino de discernir (discernere) que gerou também discernimento. É quase um sinônimo de inteligência; uma das primeiras ocorrências no cérebro (infantil) que identifica coisas e discrimina pessoas de objetos, por exemplo e depois discrimina pessoas de animais e vai, aos poucos, se tornando mais inteligente! Em seguida esse processo se expande do cérebro para a mente e continuamos discriminando para… aprender! Nosso preconceito depende da nossa capacidade de discriminar e isso nos torna mais (ou menos) inteligentes. Todos temos preconceito contra pessoas muito feias, por exemplo, ou mutiladas.
3 – O diferente: Aprendemos a diferenciar desde a mais tenra idade e para diferenciarmos precisamos primeiro identificar. Identificamos um e depois identificamos o outro para, em seguida, podermos diferenciá-los (discriminá-los). Surge então a pergunta: – “Diferente do que?”. Entra então o princípio estatístico de maioria: há o diferente que nunca vimos ou o diferente que vemos pouco porque é diferente da maioria. Então discriminamos o que é diferente do que conhecemos ou o que difere da maioria conhecida. É um processo natural e inteligente.
4 – Instinto de preservação: Vimos até agora o processo natural e desejável do desenvolvimento e entramos agora na questão instintiva de auto preservação que é: o desconhecido nos assusta porque potencialmente pode ser uma ameça. É instintivo logo não podemos agir diferente do que é comandado pelo instinto. Se avistamos uma pessoa com um só olho no meio da testa… nos assustamos e o “susto” é uma reação instintiva que deflagra uma série de reações corporais independente de nossa vontade. Há uma descarga hormonal, a aceleração do batimento cardíaco, a crispação muscular, etc.. Ironicamente podemos dizer que o nosso instinto é preconceituoso.
5 – Valores: Do outro lado da escala, no aspecto humano sofisticado, temos nossos valores individuais e sociais. É nesse aspecto que “pega” a questão do preconceito e discriminação. Nossa sociedade tem regras (leis) que podem punir determinados tipos de discriminação como, por exemplo, impedir o acesso de determinados grupos (étnicos, religiosos, etc.) a determinados locais. Por outro lado há regras e leis, nessa mesma sociedade, discriminando determinados grupos, como por exemplo as filas ou assentos reservados para idosos, deficientes, etc.. A coisa se complica mais um pouco se pensarmos em “maioria” em diferentes grupos sociais. Em uma sociedade onde predominam os negros não há lei que puna discriminação contra negros, que são maioria (diferente seria o branco, amarelo, etc.). Na Alemanha nazista não era preconceito discriminar judeus (os valores da sociedade/maioria viam esse diferente como errado e ponto!)
Os valores individuais, no entanto, podem ser preconceituosos desde que o comportamento e atitudes do indivíduo não sejam discriminadores, não de forma absoluta, mas em consonância com o definido por aquela sociedade (maioria). Por outro lado há a liberdade de pensamento (neste caso, sentimento), isto é, você pode sentir preconceito, mas não pode se comportar de forma preconceituosa. Um valor individual altamente recomendável seria o de não tratar ninguém de maneira preconceituosa ou discriminadora.
Dessa forma podemos concluir que todos somos preconceituosos (e isso é uma virtude) com exceção de pessoas
a) com baixíssimo nível intelectual
b) com sério comprometimento neurológico
c) com sério comprometimento psíquico (sem identidade)
Seja então normal, isto é, preconceituoso como qualquer pessoa saudável e isso quer dizer que você se preserva, tem valores e os defende, definindo dessa forma sua identidade.
NUNCA, no entanto tenha atitudes e comportamentos discriminadores ou valores não condizentes com o grupo social que você frequenta para não ser punido pela lei ou pelo seu grupo social. Desejar ter os mesmos valores propagados pela rede social não é saudável!
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