Há uma espécie de lagosta que em determinada época faz uma migração. Em fila indiana elas se deslocam no fundo do oceano por várias milhas e não sabemos o porquê.
As aves se compõem de várias espécies migratórias. A explicação de que elas migram para fugir do inverno não se aplica a todos os casos pois algumas iniciam a viagem no verão.
A falta de alimento também é uma justificativa que falha em relação a algumas espécies. Como explicar que num determinado dia um bando de aves levante vôo e passe, parte do ano ou o resto de suas vidas, em alguns casos, numa região milhares de quilômetros distante do seu local de origem?
Por que algumas espécies animais são monogâmicas e outras não?
Porque o salmão, todo o ano, sobe o rio (contra a corrente) para desovar na região em que nasceu?
A hiena, ao nascer, vai, imediatamente, à procura de um eventual irmão do mesmo sexo, e tenta matá-lo. Sem ter tido mesmo um minuto para qualquer aprendizagem ela já distingue o irmão, o recém-nascido, a diferenciação sexual e procura eliminá-lo.
Somos formados com uma base genética: recebemos as características de nossa espécie e também as características de nossos genitores (semente). Sobre essa base nos desenvolvemos moldados por influências ambientais (água, luz, nutrientes e relações).
Somos formados através de diferentes influências o que define algumas de nossas “camadas” e nós somos a soma dessas camadas e, note, há muito mais em nós do que temos consciência.
Nossa vida consciente é percebida como se fosse tudo o que nós somos, pois só ela percebemos e com clareza sabemos como ela influencia nossas decisões e atitudes. É esse “eu” que acreditamos ser o “EU”, porém, ela é apenas nossa Consciência.
O “EU”, no entanto é fortemente influenciado por nossas emoções inconscientes, marcas emocionais de nossas vivências: o Inconsciente Individual.
Temos ainda Tendências Instintivas (heranças genéticas) provindas do Inconsciente Familiar (herança familiar) e do Inconsciente Coletivo (herança da espécie), que exercem influência sutil, mesmo que possam ser definitivas em alguns aspectos.
Desconhecer esse conjunto é ter um menor poder de fazer escolhas ou ainda, menor controle sobre os resultados de nossas ações e escolhas.
Nossa consciência, através do raciocínio lógico, pode nos mostrar a inviabilidade e o enorme risco de uma relação afetivo-sexual estável (duradoura) e mais ainda, de ter filhos. O Inconsciente Coletivo, no entanto, nos impele a isso; o inconsciente familiar pode, em função do histórico familiar, nos impulsionar a favor ou contra essa escolha; o inconsciente individual, também poderá influenciar a favor ou contra, em função das nossas vivências, principalmente na primeira infância. Essa mistura de impulsos pode levar-nos com facilidade ao casamento e procriação; pode nos imobilizar caso as forças antagônicas sejam equivalentes; mas pode também nos tornar solitários. Em qualquer dos casos teremos explicações racionais (conscientes) para qualquer que seja nossa escolha.
Nascemos com algumas tendências instintivas impressas em nossos genes. Temos o inconsciente coletivo que nos brinda com recursos específicos e o inconsciente familiar que representa a herança das características do nosso grupo familiar. Portanto a natureza nos dá os primeiros impulsos para nosso desenvolvimento.
Nosso cérebro já tem suas estruturas formadas quando do nascimento. Seu desenvolvimento ocorre de forma significativa até os 20 anos de idade, mas cérebro não é mente. O psiquismo começa a se formar na gestação e são as vivências que reforçam ou modificam nossas tendências instintivas (herança genética).
Uma criança que tenha tendência genética para a obesidade (60 a 80 bilhões de células adiposas) pode, quando adulta, ter o mesmo número dessas células que uma pessoa de peso normal (entre 20 e 30 bilhões), se durante seu desenvolvimento teve sempre uma alimentação saudável e atividade física. Assim como uma criança que tenha tendência genética para comportamentos não produtivos (exemplificando com explosividade e ansiedade), pode apresentar comportamento normal se for “educada” de forma a desenvolver comportamentos “normais” e não os definidos por uma herança genética.
Temos então:
1 – A estrutura física (cérebro);
2 – Um roteiro básico – a tendência instintiva (herança genética);
3 – As vivências, subdivididas em:
3.1 – Vivências fortuitas/acidentais
3.2– Vivências intencionais oferecidas por um adulto significativo
4 – Correções que fazemos intencionalmente, quando adultos, para corrigir aprendizagens que nos levam a comportamentos indesejados.
As primeiras vivências constituem os alicerces da matriz de relação. Essa matriz é o roteiro básico inconsciente de como se darão as relações “eu/mundo”, isto é, como o indivíduo se posicionará em relação ao que lhe é externo. Se, irá perceber o que lhe é externo, como ameaçador ou acolhedor; se o externo é “melhor/acima” ou “pior/abaixo” dele mesmo; se é aceito ou não, respeitado e querido.
western’;”>matriz de relação se forma em camadas: as vivências na gestação – químico-orgânicas; nos primeiros seis meses após o nascimento – primeira base relacional; dos seis aos 18 meses – segunda base relacional; e dos 18 aos 30 meses – estruturação da matriz de relação e expansão cognitiva.
Até os 30 meses a criança desenvolve a estrutura através da qual se relacionará com o que lhe é externo, e sobre essa estrutura apoiará toda a relação, mesmo as mais complexas que existirão ao se tornar adulta. As vivências oferecidas pelo adulto significativo promovem alterações nas tendências instintivas do inconsciente coletivo e familiar, propiciando a criação das tendências do inconsciente individual (matriz de relação).
É dessa maneira, que os pais (adulto significativo), criam a mente do indivíduo, através do que vivenciam com a criança nesse período inicial da vida. O desenvolvimento posterior, relacional, será a expansão através da matriz consolidada, e o cognitivo será enfatizado e mais visível, também em camadas e com períodos nos quais mudanças significativas podem ser facilmente observadas:
nascimento;
entre os dois e três anos de idade;
por volta dos seis ou sete anos (maior definição da identidade);
entre 11 e 13 anos de idade (intensa busca de adaptação da identidade à definição de gênero);
entre os 16 e 19 anos (a construção da individualidade).
Aos 20 anos se consolida o córtex pré-frontal, a área executiva do cérebro, responsável pela eficácia da ação das demais áreas, além da previsão dos resultados das ações e julgamento. A partir daí somos nós que, com esse instrumental, vamos nos relacionar com pessoas (amigos, colegas de trabalho (superiores e subordinados), namorados, cônjuge, parentes e “coisas”: nosso carro, nossa casa, nossa cidade, etc.. O resultado desses relacionamentos vão determinar nosso “destino”, isto é, se vamos realizar positivamente todo nosso potencial, negativamente, o se não vamos realizá-lo. Quando adultos podemos perceber que não estamos atingindo nossos intentos e podemos querer entender o porquê disso. O caminho é conhecermos mais de nós mesmos; conhecer o que nos é inconsciente e, dessa forma: 1 – ampliar nossa individualidade 2 – corrigir eventuais “heranças que não nos sejam favoráveis e, dessa forma 3 – corrigir nossa “matriz de relação” e nossos relacionamentos, evitando que passemos à frente essa herança indesejada. Pessoas precisam de condições favoráveis para permanecer fortes e saudáveis; precisam de vínculos fortes, saudáveis e nutrientes para a realização de seu potencial e para transmitir aos descendentes o melhor de si mesmas. Não basta despender energia, criatividade, vivacidade, dedicação para estabelecer relacionamentos positivos e produtivos, é necessário ampliar o conhecimento de nós mesmos e adentrar em áreas que nos são inconscientes. O conhecimento de si e a correção de eventuais distorções é a profilaxia que tornará nossas relações e o produto de nossa vida, mais saudáveis.
Comentário
Nenhum comentário.