Nossas vivências geram sentimentos negativos: dor, mágoa. Boa parte de nós carrega um desejo de “justiça”. Coloquei entre aspas esse “justiça” porque, observe, sempre que alguém clama por “justiça”, é provável que possamos identificar, na verdade, o clamor por vingança.
Wellington Menezes falou em vídeo: “A luta pela qual muitos irmãos no passado morreram, e eu morrerei, não é exclusivamente pelo que é conhecido como bullying. A nossa luta é contra pessoas cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem”.
Nossa raiva nos leva a querer “consertar” o mundo.
Wellington, como praticamente TODOS os demais atiradores em escolas, queriam justiça e praticaram a sua vingança.
Eram “loucos”? “Especialistas” gostam de construir uma entidade específica que nos conforta: esquizofrênico, psicopata. Sim, nos acalmamos ao aceitar que o horror foi provocado pela “entidade” esquizofrenia pois, com isso, afastamos a possibilidade de haver inúmeros potenciais atiradores espalhados pelo mundo, e um perto de nós e, pior, que um deles esteja escondido… dentro de nós.
A indignação pelo errado deve sim existir mas sua exacerbação, a busca da “justiça” desmesurada nos leva a atirar no condutor do carro que nos deu “uma fechada” no trânsito.
Veja detalhes dos atentados em escolas: o perfil psicológico dos “justiceiros” se repetem. Todos carregavam a dor e depois a raiva do abandono, rejeição, “bullying”, etc.. Afastar-se do convívio social é uma possibilidade bem natural, ligar seu pensamento em ideias semelhantes às suas é quase o óbvio; levar esse conjunto até ações destrutivas depende apenas de tempo e energia. Chamar a isso de “esquizofrenia” ou qualquer outro nome é uma forma de dizer: “eu não poderia ter feito nada para evitar”.
A sociedade pode sim fazer algo para evitar e certamente não é trocando espelhinhos por armas, não é colocando detector de metais na entrada da… onde um detector de metais pode ser eficiente? Não é fazendo uma “caça às bruxas” como se faz nos EUA que o problema se resolve (eles não percebem que não resolve?).
A única alternativa é aquela já verificada e que podemos observar nas pequenas comunidades: precisamos ser mais generosos, estarmos mais próximos uns dos outros e “receber” o outro com suas falhas, dificuldades. Sem isso só nos resta “El Justiciero”, uma canção obviamente irreverente do Mutantes.
Comentário
Nenhum comentário.