Foi em meio ao movimento do “amor livre” e início da “libertação feminina” que surgiram as piadas sobre a queixa feminina: – Você não me ama mais!
Os homens continuavam os mesmos com seus eixos fixados no âmbito racional o que fazia com que, apenas no curto período da paixão, demonstrassem sua emoção. Em função disso, após um determinado tempo de casados, seus comportamentos eram definidos pela razão e pela lógica.
“Você não me ama mais” era a percepção feminina (de algumas mulheres) de que o homem, seu marido, não expressava mais o sentimento (de amor). A resposta masculina era de não compreensão: “de onde você tirou isso?”. Afinal ele trabalhava, dava duro por longas horas, dias, semanas, meses, perdendo inclusive o convívio familiar, tornando-se um apêndice, para proporcionar o melhor para a família!
Há aí um evidente problema de comunicação como se cada um falasse um idioma diferente. Na verdade entendem as palavras, mas não sabem realmente o que o outro está dizendo porque as tomam como sendo do seu próprio idioma. Não estão disponíveis para ouvir, isto é, não se ocupam em traduzir as palavras que escutam, para o idioma do outro (o que isso quer dizer no idioma que o outro fala?). O fato de ele não dizer “Eu te amo” pode não ter significado negativo OU ser sim o início da deterioração do relacionamento. Para interpretar corretamente esse fato devemos considerá-lo na linguagem dele.
Vamos pinçar 3 diferentes momentos históricos para detalhar um pouco mais essa questão:
- Entre 100 e 200 anos passados, o homem era o “cabeça do casal”, dono de todas as posses; dono inclusive da família. A mulher devia obedecer ao marido (seguir suas regras, crenças, valores) e se não o fizesse o custo era altíssimo (era totalmente dependente – não aprendia a ler, não podia votar, só aprendia a cuidar da família). Aceitava, então, sem demonstrar qualquer oposição, o “modo de ser” do marido.
- Na primeira metade do século XX as mulheres começaram a ser incluídas na educação formal, ganharam alguns direitos civis (direito ao voto, por exemplo) e, com o surgimento do anticoncepcional (no meio do século passado), conquistaram o poder de escolher engravidar (ou não). Puderam então perceber e/ou manifestar seu descontentamento com a (falta de) atenção do marido (no modo de ser feminino).
- Com a “libertação feminina” e a abertura do mercado de trabalho à mão de obra feminina a mulher conquistou a autonomia financeira e juntamente com isso (década de 1970) a possibilidade de divorciar-se. Passou então a esperar (e exigir) que o homem se comportasse de outra maneira. O número de separações tornou-se maior que o número de casamentos.
Na esteira dessas mudanças sociais os homens foram se adaptando tendo surgido recentemente o mais novo projeto do homem teoricamente desenhado para atender à demanda feminina: o metrossexual. Aparentemente essa fórmula não satisfaz a nenhum dos gêneros e parece estar falida antes mesmo de crescer.
Aquele problema de comunicação descrito no início deste texto continua a ocorrer, porém está agravado por novos fatores. Muitos homens se tornaram mais sensíveis e são capazes de responder às necessidades femininas, sendo mais carinhosos, por exemplo. Mais sensíveis, tornaram-se também mais meticulosos e mesmo mais vulneráveis às atitudes femininas o que faz as mulheres que são independentes, lógicas (duras), torcerem o nariz: “ele é cheio de coisinhas”, dizem.
Podemos dizer então que aquele fosso que existia separando homens e mulheres foi removido, porém há um outro, talvez tão grande quanto, fazendo com que a utopia do encontro, que a relação intensa e gratificante, continue sendo um grande desafio (e conquista) pessoal.
Principais falhas na busca:
– Não atentar para o fato de que o relacionamento nutriente precisa ser construído (não está pronto – não “cai do céu”).
– Que vamos encontrar o outro por inteiro e não as partes (boas) que nos atendem/completam.
– Que o outro não estará disponível para atender nossas demandas o tempo todo.
Principais conseqüências:
– Mais freqüentes: desentendimentos, brigas freqüentes, desrespeito ao outro, insatisfação, insônia ou noites mal-dormidas, cansaço, falta de motivação, busca de prazer compulsivo (compras, por exemplo), traição (relacionamento físico com terceiros). O outro (o indivíduo) é visto como o responsável pelos problemas. Uso do sexo como moeda de troca.
– Graves: Agressões, retaliações sucessivas em escala crescente, separação. O outro é visto como responsável, porém pode haver também a percepção de erros próprios, mesmo que para isso se atribua ao outro o “motivo” desses erros. Uso do sexo como punição – frigidez e impotência podem se delinear. Tende a ocorrer somatizações.
– Gravíssimas (e menos comuns) – Abandono de si mesmo, depressão, descaso em relação ao futuro – aos filhos, sentimento de ter sido traído na essência (não apenas sexo), podendo culminar com homicídio/suicídio. O responsável não é o outro, mas todo o gênero. Abandono do sexo ou prática incomum/doentia como punição a si ou ao outro. Somatizações são freqüentes.
Quem ama mata? Essa pergunta simplista pretende encontrar uma resposta simples e esta não existe. Um relacionamento inadequado pode sim levar ao assassinato (e também ao suicídio). No começo os problemas, no entanto, não parecem assim tão graves, mas podem crescer de maneira insidiosa. Depende de nós (e não apenas do outro) a construção do relacionamento que desejamos. Devemos estar atentos para a possível deterioração do relacionamento:
– Não há troca de carinho
– Beijos se rarefazem
– O “selinho” substituiu o beijo
– Perdeu-se o respeito
– A irritação e raiva estão presentes na maioria das vezes em que se falam
– Já não se falam
– Há o desejo de trair (sexo)
– Há o desejo de recomeçar (com outro)
– Não há desejo de trair o par atual, nem de recomeçar com outro
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