Nascimento, desenvolvimento e “morte” de uma relação afetiva duradoura.
Já foram feitas analogias relacionando o desenvolvimento de empresas ao desenvolvimento humano. Há um livro que fala do nascimento, desenvolvimento e da “morte” de organizações. Com o relacionamento afetivo-sexual podemos encontrar também etapas de desenvolvimento… ou não.
Como já tratei em outros textos o relacionamento afetivo começa freqüentemente através da paixão. Essa fase, no entanto, é aquela na qual já podemos “ver” a relação acontecendo. Há etapas anteriores que mostram o real nascimento de uma relação.
Essas etapas podem ser comparadas com aquelas visíveis no desenvolvimento humano. O início (freqüentemente) é sensorial, isto é, aparentemente (e apenas aparentemente) são os sentidos que identificam algo que nos dá prazer (e por isso queremos).
Nossos olhos (na verdade o cérebro ou mais corretamente ainda, a mente) param em alguém – talvez um olhar – o rosto, o cabelo – ou seria o jeito – o modo de estar, falar, olhar, etc.? (não podemos esquecer que outros sentidos também têm papel importante – o olfato, por exemplo). Quando isso acontece acima de determinada intensidade é provável que seja recíproca a atração. Essa etapa é comparável aos primeiros momentos da vida de um bebê, quando ele apenas percebe o prazer ou não através dos órgãos dos sentido.
Aos poucos o que era percepção sensorial “cresce” – se desenvolve – para a emoção/sentimento. Essa etapa é muito superior à primeira por envolver aspectos mais elaborados das características humanas. O bebê, exceto se tiver disfunções significativas, avança para essa segunda fase porém os casais nem sempre fazem esse avanço. A relação recém-nascida pode terminar ainda nessa fase inicial, restanto eventualmente apenas alguma leve lembrança.
A primeira etapa – sensorial – que no bebê se inicia ainda durante a gestação e se desenvolve lentamente para a fase emocional, ocorre nos casais abruptamente como se tivessem sido atingidos pela flecha do cupido. Cupido – a nossa cupidez – nosso desejo de “possuir” algo que admiramos – queremos. A beleza, a inteligência, a segurança, a flexibilidade, a força, a delicadeza, o porte, a energia, a alegria… Essa posse é ampla – o bebê busca possuir através da boca (reconhecer mas também incorporar) – os adultos de diversas maneiras – mãos dadas (and when I touch you I feel happy inside) – sexo – casamento, por exemplo.
A evolução para o “sentimento” é quase automática nas mulheres e exige um maior desenvolvimento nos homens. Um número muito grande de relações termina nessa fase porque o homem se mantém na fase sensorial.
Por quase duas décadas a criança “evolui” ampliando seus recursos lógicos. Esse desenvolvimento é o final para muitas pessoas: sensorial – emocional – e finalmente racional. Pode acontecer de irmos abandonando a maior parte dos recursos da fase anterior, ao adentrarmos em nova fase, ou irmos integrando, isto é, descartando os excessos mas incorporando o que era significativo da fase anterior, nos novos recursos da fase que estamos conquistando – com isso vamos ficando mais completos.
Dessa forma podemos viver uma relação afetivo-sexual por mais de vinte anos e mantermos ainda apenas o desejo sensorial de “posse”. Pode acontecer de que esse desejo se esvaeceu porém continuamos apenas a usar o outro como uma bicicleta, que já foi muito desejada um dia, mas hoje está esquecida no fundo da garagem e a utilizamos eventualmente em alguma brincadeira ou olhamos em algum momento com saudade do desejo que já tivemos. Da mesma forma podemos ter nos “congelado” na fase do sentimento – e isto é cada vez mais comum – e a relação com o outro ser afetivamente muito intensa porém o afeto mais vivenciado seja o negativo, já que o dia-a-dia nos oferece oportunidades nesse lado. Ocorre também de termos adentrado a fase racional porém abandonando totalmente (ou quase) o sentimento; neste caso mais frequentemente ocorre a acomodação (no sentido negativo) – o desalento – ou a relação superficial – de aparências. O resultado é crise, infelicidade.
Quando se dá o crescimento entre as citadas fases, incorporando os aspectos positivos da fase anterior, guardamos ainda o desejo de posse da primeira fase, mas na fase racional ele é acrescido com a ações intencionais de “manutenção” (o que é mais comum nas mulheres em função da sua histórica maneira de serem criadas); o sentimento é elaborado e deixa de refletir apenas nossas vivências primevas e decidimos valorizar as sensações/percepções, vivenciar o sentimento, mesmo que de forma intensa, mas com a “pitada” racional ou melhor dizendo – consciente – como encontramos na canção “You are so beautiful”: “you are so beatiful to me”.
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