A descoberta de que há uma terceira pessoa no relacionamento afetivo-sexual duradouro provoca reações intensas, muitas vezes dramáticas, e algumas vezes leva a ser considerada a qualidade do vínculo que o casal vinha mantendo.
A decepção é inevitável e o mais freqüente é que, ao menos na superfície, culpe-se alguém de traição e associe-se esta ao mau-caráter.
A divulgação recente da existência de uma namorada do nosso “poeta maior” Carlos Drummond de Andrade, por quase 40 anos (Lygia Fernandes), coloca em dúvida essa simplificação de atribuir-se a traição ao mau-caratismo; afinal quem pode pensar em um Drummond mau-caráter? Deslizes sim, mas admitidos em Vinícius de Moraes, nunca em Drummond!
Mulheres traídas podem acusar o marido pela quebra da confiança, porém é freqüente também que se questionem:
- O que fiz de errado?
- Não sou boa o suficiente?
- Me enganei esse tempo todo?
A mulher que trai, esta sim sente-se mau-caráter porque, ao contrário dos homens, tem boa consciência do vínculo, família, repercussões do ato nos filhos, etc..
O homem “traidor” pode ficar estupefato, estarrecido: “Como pude?”, diante de uma súbita consciência da extensão do ato e/ou de algumas das possíveis consequências.
Amantes sempre existiram e não apenas para os homens. Cada época tem seus motivadores específicos, por isso vamos considerar alguns dos motivadores atuais:
- Mau-caratismo – Sim, pode haver mau-caratismo, porém esse fator está longe de ser o motivador mais comum. O mais comum é a:
- Falta de caráter – Vamos entender de forma especial o “caráter”: a coerência das atitudes com os valores/princípios. Valores torpes levando a atitudes torpes definem o mau-caráter e o contrário – valores e princípios elevados, gerando atitudes elevadas, definem o caráter elevado. Muitos homens – a maioria – não se casa para constituir família; não tem noção do significado de “família”; nunca pensou nos reflexos de suas atitudes na formação dos filhos; nunca pensou que transar com outra mulher significa “trair”. Dessa forma lhe faltam valores e por isso sua atitude não é conscientemente má.
- Necessidades emocionais não atendidas – Como muitos homens casam-se pela mulher – pela relação – e não pela família ou filhos, é freqüente então que suas expectativas sejam frustradas, principalmente quando chegam filhos. A tendência comum é que seja substituída a relação homem-mulher pela relação pai-mãe, ao invés de manter a relação homem-mulher e acrescentar os novos papéis de pai e mãe. Com isso ambos podem se tornar insatisfeitos e o mais comum (na história recente) é que a mulher transfira a relação afetiva para os filhos; alguns homens a transferem… para outra mulher.
O insatisfatório triângulo amoroso muitas vezes é uma tentativa de encontrar a satisfação de uma necessidade emocional não atendida, quando a busca da utopia da relação emocional duradoura gratificante foi abandonada. É uma alternativa artificial apimentada pelo proibido e/ou “impossível” que supre uma lacuna que passa a existir quando se deixa de enxergar o “outro” e de buscar, com ele, o relacionamento desejado. Descobre-se com aquele que seria o “par”, o que é o relacionamento indesejado, pois na grande maioria dos casos, não se sabe como seria o relacionamento desejado. O(a) amante permite então que seja descoberto o que desejamos de um relacionamento. Dessa forma enviesada é que, algumas vezes, é possível reconstruir o relacionamento com qualidade muito superior ao existente até então. Para isso, no entanto, é necessária a harmonia dos objetivos do par.
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