Somos imbuídos na certeza de que “amar” não requer prática nem habilidade. Vamos pensar um pouco nisso.
Coloquei as palavras Aptidão e Habilidade provocando um contraste com Amar, contraste esse que existe apenas em nosso sentimento pois podemos verificar que:
- o sentimento de amor é aprendido (podemos estar ou não aptos para amar) e
- o relacionamento amoroso depende de ações, atitudes, comportamentos, que estão sob o domínio da razão, podendo ser, então, desenvolvido (ou não) como uma habilidade
O sentimento de amor é aprendido:
A paixão não é aprendida. A paixão é a identificação de características (desejadas?) no “outro” e o impulso instintivo de agir de forma a incorporá-las a nós – a fusão. Apaixonar-se é, dessa maneira, um reflexo instintivo, presente em quase todos os indivíduos, com alguma variação de intensidade e frequência.
O sentimento de amor é distinto da paixão, é o vínculo emocional construído através de alguns componentes com maior ou menor intensidade em diferentes pessoas: dedicação, sentimento de proteção e/ou de ser protegido, de fazer parte (não estar só), etc. Aprendemos a amar desde os primeiros relacionamentos que tivemos com nossos primeiros cuidadores e, caso nossa experiência inicial tenha construído uma matriz relacional que consideremos não produtiva (depois de adultos), podemos rever e “reaprender” a amar, revendo o afeto negativo ou seu embotamento. Essa uma das utilizações bem frequentes da psicoterapia.
Relacionamento Amoroso:
O relacionamento pode ser feito de forma amorosa, mas isso ocorre por uma maior influência da socialização – aprendizagem que se dá com maior participação do âmbito consciente e racional. Podemos, por isso, termos o sentimento de amor desenvolvido, positivo, e mesmo assim termos uma habilidade relacional negativa ou pouco produtiva.
As dificuldades originadas na habilidade relacional são os motivadores muito frequentes na busca pela Terapia de Casal.
Erroneamente delegamos ao acaso (ou, como dizemos frequentemente ao amor) a qualidade do nosso relacionamento afetivo. Acreditamos que, dessa forma, o amor seja verdadeiro, autêntico, real. Não é assim. Um sentimento de amor, intenso e legítimo, pode estar acompanhado de uma forma de expressão negativa ou pouco produtiva. Por outro lado, a habilidade relacional não implica na ausência ou em um reduzido sentimento de amor. Os mais saborosos e longos relacionamentos afetivos acontecem quando estão presentes:
- o sentimento de amor (aptidão)
- e ações, atitudes intencionais de qualidade (habilidade)
É bastante frequente, porém, que ao invés de exercitar com qualidade o sentimento de “amar”, demos preferência à contabilidade: o quanto estamos sendo amados?
Muito Bom