Na história recente o casamento aberto foi discutido e pesquisado no início do século passado. Em 1930 surgiram livros “técnicos” pregando a racionalidade nas relações e denunciando o casamento tradicional como uma construção burguesa antinatural.
Essa defesa se apoiava na labilidade afetiva humana e nos distúrbios que a exclusividade sexual impunha às pessoas.
A liberdade sexual tornou-se um movimento mundial na década de 60 do século passado e, suportada pela ordem econômico-política dos Estados Unidos da América, essa forma de relação que preserva a individualidade se propagou naquele país, tornando-o o centro difusor do casamento aberto na década de 70.
Esse movimento difundiu-se em diversos formatos, desde camas separadas, passando por banheiros separados, casas separadas e mesmo cidades e países diferentes. A distância entre os parceiros era uma forma de conseguir a estabilidade da relação. O centro da questão, no entanto, era o ciúme, a posse, a dominação definida pela exclusividade sexual, que nesse modelo era descartada. Cada um dos componentes do casal poderia relacionar-se sexualmente com outros parceiros sem que isso significasse um rompimento ou mesmo um “problema” no relacionamento.
Essa forma de relação esfriou, isto é tornou-se cada vez menos praticada porque continha uma falha básica: a relação afetivo-sexual, amorosa, ou o tradicional “casamento” não existe apenas em função de fatores racionais-conscientes nem puramente sexuais; essa relação se estabelece no âmbito emocional inconsciente, fundamentada no impulso para a construção de um “ninho” conforme impresso em nosso mundo emocional em nossos primeiros anos de vida. É a relação com “o outro” – com o que nos é externo – que nos intriga e nos atrai, fazendo com que surja o impulso de refazer essa relação, a p e r f e i ç o a n d o – a !
Uma espécie de casamento semi-aberto vem surgindo nas últimas décadas. Essa forma não se baseia em disposições teóricas e sim vem acontecendo naturalmente: o medo das relações leva ao estabelecimento de relações “afetivas” não fusionais.
O casamento tradicional em boa parte se inicia na paixão, isto é, no encontro de identidades onde acontece a fusão emocional, com todo o cintilamento conhecido por quem já viveu essa experiência. O individualismo muito presente hoje nas grandes cidades teme essa fusão e desenvolve uma relação que fica estabelecida mais na superfície (razão), limitando seu acesso à emoção.
Esse tipo de relacionamento ganhou apoios posteriores que valorizam a individualidade.
Gostemos ou não o ser humano não é essencialmente racional e sim um animal (instinto, emoção e seus aspectos inconscientes) racional; por essa razão tanto o “casamento aberto” como a mais recente forma de relacionamento conjugal “de superfície”, funcionam com estágio preparatório ou exercício pré-casamento.
Essas formas alternativas de relação são as formas que algumas pessoas se permitem por sentirem-nas menos perigosas, ao sentirem-se mais seguras tende a acontecer o “encontro” e elas se atiram “de cabeça” em um relacionamento fusional: o casamento (com todas as dificuldades e problemas nele existente).
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