Acreditamos que as grandes escolhas de nossa vida, carreira, casamento, filhos, são feitas pela nossa razão, mesmo que uma busca não muito complexa nos mostre que a emoção acabou influenciando (se não determinando) cada uma delas. E o que dizer das pequenas escolhas do dia a dia?
O que estou dizendo é que temos vontade de comer pizza ou churrasco e esse desejo estou englobando em um pacote que chamo emoção. Da mesma forma queremos viajar, descansar, ver um filme… queremos! Da mesma forma dizemos que precisamos “ver gente”, ir a uma festa (preciso sair!) e também ficar sozinhos; emoções!
Agora é preciso colocar mais uma palavra nesta sopa de letrinhas: precisamos sentir! A criança enfastiada costuma dizer: – “não tem nada para fazer” e nós também sentimos assim mesmo sem dizer essa palavras. Diz-se que precisamos nos sentir vivos! Por isso buscamos sentir, mesmo negando isso, ao ir ver um filme (fonte notória de contágio emocional), ouvir música, ir a uma festa, beber alcoólicos (adormecer a razão) ou outras formas de amplificar a emoção (maconha, cocaína, anfetaminas e outras substancias). Só não fazemos o mais óbvio, por temermos, que é localizar, adentrar e mesmo mergulhar em nossas emoções. Adentrar às nossas emoções é admitir sentir e admitir sentir nos dá medo porque parece que vamos abdicar da racionalidade, como se pensar e sentir fossem excludentes. Pense que sentir é como ir a uma festa ou assistir a um filme. É se permitir olhar e viver seus sentimentos. Dá medo? Sim, porque você sabe que a festa ou o filme estão sob controle, são conhecidos e você sabe que logo voltará à vida normal. O que acontecerá se você olhar (e ver) suas emoções? Terá que obedecê-las cegamente?Adentrando, se familiarizando, construido intimidade com suas próprias emoções haverá uma interação entre sua razão e emoção e… elas entrarão em entendimento. Dessa forma, com um mergulho nas emoções você poderá descobrir uma mundo novo, rico, intenso, por ampliar (podendo também amplificar) sua percepção (emocional) da realidade.
Entrar e Ampliar:
Entrar no mundo emocional, isto é, olhar, perceber e assumir as próprias emoções implica em ampliar sua percepção do mundo. É, por exemplo, perceber o impacto de suas palavras nas emoções do ouvinte e, com isso, poder calibrar com maior precisão as próximas palavras, visando obter um melhor resultado dessa conversa. É captar os motivadores emocionais de suas escolhas e compará-los com os racionais para que a escolha seja mais acurada. Não perceber (sentir) o outro é que dá a oportunidade de surgir a frase: – “Ele(a) não me compreende” e isso quer dizer : ele(a) não me sente, não me percebe, não me capta. Em um exemplo simples podemos dizer que alguém que decide a compra de um automóvel de forma racional, buscando o mais econômico, não atende seus desejos de “status” e ficará insatisfeito com ele ou, inconscientemente, o mais econômico poderia estar apenas escondendo sua insegurança em gastar mais em um veículo mais caro (e novamente a insatisfação). Com isso quero dizer que, mesmo negando, não assumir as próprias emoções é uma fonte permanente de insatisfação que se traduz também por rigidez, irritação, mau humor, etc..
No âmbito poético Meredith Willson compôs em 1956, para um musical, uma canção que diz: “Naquela colina toca um sino e eu nunca o tinha ouvido, até conhecer você”.
(https://www.youtube.com/watch?v=JLDsLeVxOaU )
(https://www.youtube.com/watch?v=JN36SzacyTI )
“Há pássaros no céu e eu nunca os tinha ouvido, até conhecer você” Essa é a forma com que ele descreveu o estado de paixão (um estado alterado de consciência quando as emoções são acessadas e percebem (percebemos) mais (e melhor?) a realidade. A sensação é que a realidade foi ampliada, mas de verdade ampliamos nossa percepção da realidade ao incluir o mundo emocional. De uma forma mais sutil, Chico Buarque incluiu na canção Sem Fantasia:
https://www.youtube.com/watch?v=BtGpXx0SH0Y
Vem meu menino vadio
Vem sem mentir pra você
O que quer dizer “sem mentir pra você”? Pense um pouco antes de continuar a leitura. Naturalmente, como toda expressão artística, a interpretação cabe a quem aprecia a obra, mas vamos tratar racionalmente uma interpretação desse verso: pelo contexto mais amplo da letra, há uma crítica à forma masculina de evitar olhar para o mundo emocional: o homem se engana, mente para si mesmo, não admite que “ama”; tenta encontrar motivos racionais para o que pode ser um encantamento, gostar, querer, amar.
Viver prioritariamente no mundo racional ou prioritariamente no mundo emocional nos deixa mancos, incompletos, inconsistentes, superficiais, vazios e eventualmente percebemos isso como um certo alheamento a nossos propósitos (racionais) ou desejos (emocionais), como descrito por Fernando Brant na canção “Travessia”:
https://www.youtube.com/watch?v=BtGpXx0SH0Y
“Minha casa não é minha
nem é meu este lugar”
É como se estivesse dizendo: “Eu não sou eu” e realmente não é, porque sente que é realmente muito mais do que está sendo!
Quem vive prioritariamente o mundo racional tem duas grandes oportunidades de
Amplificar:
seu mundo emocional. A primeira é apaixonar-se conforme citado anteriormente e a segunda é ter um insight poderoso descrito na filosofia oriental budista como Libertação, Despertar, Nirvana, Satori ou Iluminação. No ocidente esse insight é desacreditado e, no máximo visto tecnicamente como um estado alterado de consciência ou uma experiência emocional religiosa (como também é encontrada em descrições de alguns Santos da igreja católica). O descrédito é tal que expoentes intelectuais não se intimidam em afirmar (por escrito) que a felicidade não existe e sim alegrias eventuais! Esse Despertar é a amplificação da percepção da realidade ao se apropriar das emoções. Há inúmeras descrições do que ocorre ao atingir a Iluminação ou entrar em contato com Deus. São descritas de formas diferentes como, por exemplo, “o mundo tornou-se brilhante como se tudo fosse prateado” e isso não tem sentido na visão racional, mas tenta explicar o “brilho” com que se percebe todas as coisas. Os elementos comuns aos diversos satori são uma completa e absoluta paz e uma completa e absoluta felicidade porque, segundo o zen-budismo “Quando a mente e o mundo objetivo são esquecidos, a Essência se manifesta. Isto é: quando se consegue escapar da prisão do mundo racional, a percepção da totalidade, a integração razão-emoção se manifesta, conforme escrevi em meu livro “Satori, Nirvana, Despertar, Libertação, Iluminação” em 1995. Com isso a sensação é que o que se via do mundo (da vida) até aquele momento era apenas uma pequena fração do que passsou a ser percebido; entende-se de forma (mais) completa a vida; sente-se o mundo vibrar; conhece-se a “verdade”. Abaixo o trecho de uma das cartas de Yaeko Iwasaki, herdeira da Mitsubishi, ao seu mestre Zen-Budista, após atingir a Iluminação:
O que se observa é que apesar de negarmos a Emoção positiva, a procuramos frequentemente; percebemos as emoções negativas e desejamos excluí-las de nossa vida através de mecanismos canhestros; negamos o Amor mundano (homem-mulher) e o supervalorizamos na piedade do amor filial, parental ou à humanidade; nos apaixonamos e não praticamos a manutenção do esplendor de amar e adentrar nos apropriando do mundo emocional e, ao invés disso, abdicamos dessa ampliação do nosso Eu após o Casamento, fazendo com que mais de 87% deles sejam ásperos, burocráticos ou explicitamente infelizes. Isso é lamentável, mas mais lamentável ainda é saber que, independente de devoções religiosas, vidas monásticas ou práticas esotéricas, a paz, a felicidade e também a percepção hiper amplificada do que chamamos realidade, está ao nosso alcance, mas não nos movemos para apanhar ou, como diz um texto Zen:
“Uma mesa real é posta diante do faminto, mas ele se recusa a comer”
Homenagem e agradecimento a E. A. pela seu recente Despertar
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