Eu SOU, tu ÉS, ele É. Muitas vezes como afirmação da individualidade, outras como defesa de valores e crenças, o “eu sou assim” também aparece como uma crença em algo indesejável: sou assim porque não consigo “ser” (agir) diferente.
Muitas vezes acreditamos que “somos” de determinada maneira mesmo quando não nos apoiamos em algum rótulo para isso (como por exemplo “depressivo”, “bipolar”, “introvertido”, ou aqueles pretensamente positivos como “efusivo”, “emotivo”, etc.).
Os rótulos de “criminoso” e “ex-presidiário” acaba por definir o destino de muitas pessoas, da mesma forma que, nas relações afetivas, pode acontecer de um determinado padrão ser definido como definitivo. Ele é…
Já vimos nas manchetes dos jornais crimes cometidos por ex-presidiários e em função disso preferimos estender a regra a todos: uma vez criminoso, sempre criminoso (nem sempre é assim).
Nas relações afetivas pode surgir o “ele é” e o “ela é” negativos, como por exemplo: ele é acomodado, ele é “galinha”, ele é aproveitador, ele é grosseiro, ele é frio, ele não gosta de mim, ela não gosta de mim, ela é acomodada, ela é fria, ela é agressiva, ela é aproveitadora. Quando esses julgamentos são instalados, podem passar a definir o comportamento de quem assim julga, criando o diálogo “de surdos”.
Um exemplo de como isso ocorre saiu na Revista Veja 2174. Na página 83 há um comentário sobre o casamento de Bristol Palin onde supostamente ela pensaria: – “vou me casar com o cara que me engravidou, me abandonou, posou nu e falou cobras e lagartos sobre nossa família”. Quem escreveu o texto termina comentando: – “tão bobinha…”.
O autor das inconsistências citadas é Levi Johnston que se diz arrependido e a revista chama de “pilantra”. Está mesmo arrependido? Caso esteja, aprendeu alguma coisa com essa vivência? Conseguirá manter-se agindo de forma diversa na qual deve ter sido “formado”? Manterá o casamento com Bristol “até que a morte os separe”?
Quem sabe?
As pessoas não “são” pilantras; formam-se pilantras e continuam assim enquanto sentirem-se beneficiadas com isso e/ou até que aprendam e sintam-se capazes de “apostar” em um outro tipo de comportamento. Essa aprendizagem pode ocorrer com maior facilidade se houver algo que a impulsione nessa direção. Deixamos de oferecer esse impulso ao recusar um emprego a um ex-presidiário, por um compreensível medo de sermos roubados ou feridos.
As relações afetivas dependem frequentemente disso: apostar em uma utopia, desafiar um suposto perigo e reconsiderar a visão que temos da nossa “natureza”. Também aí vemos riscos e deixamos… de arriscar. Arriscar! Correr algum risco! Algumas vezes funciona e outras não.
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