Confundimos frequentemente o ato de amar, a atitude amorosa, com a paixão. Dizemos que sentimos amor quando estamos apaixonados. Nossos sentimentos são ambivalentes em relação a esse estado alterado de consciência: desejamos intensamente sentir a paixão e, na mesma proporção, a tememos.
Desejamos e tememos esse amor (na verdade a paixão), pelos mesmos motivos: nesse estado alterado de consciência nos sentimos leves, livres, corajosos, poderosos (e por isso ousados), criativos, descolados, intensos, etc.. Tememos porque, por nos sentirmos assim, somos capazes de tomar atitudes que em nosso estado natural de consciência não tomaríamos.
A paixão é ótima e todos deveríamos conhecê-la, mas ela apresenta um certo perigo; amar não!
Amar é, conscientemente, adotar atitudes amorosas, de dedicação; amar é decidir, conscientemente, doar-se, oferecer à alguém, levar a felicidade à alguém. É frequente, no entanto, que pensemos que amar é receber amor. Não é!
A paixão contém excitação/ansiedade e a atitude amorosa, ao contrario, tende a trazer um grande sentimento de tranquilidade (frequentemente dizemos “paz”).
O ciúme, por se ligar a outros fatores desencadeadores, pode estar presente nos dois casos, mas frequentemente ele é mais intenso na paixão, podendo ser arrebatador (mais uma fonte de perigo).
Deveríamos fazer a transição do estado de paixão para a consciência amorosa, mas esse não é um desenvolvimento natural. O mais frequente é que passemos a acreditar que “o amor acabou” quando a paixão se dissipa ou, também com certa frequência, tentemos aprisionar infrutiferamente aquele estado alterado de consciência, ao sentir que ele está se esvaindo. Essa é a origem mais frequente do que observamos como “ciume doentio”. Nele tentamos agarrar (exigir, cobrar, policiar, ressentir por não receber) do outro, as atitudes amorosas (oferecidas de forma inconsciente durante a paixão), que não percebemos mais!
Naturalmente essa é uma atitude que provoca efeito contrário ao desejado, afasta ao invés de aproximar, mas nesse estado não percebemos isso. A atitude policialesca e de constante cobrança pode se tornar um jogo em alguns casais e perpetuar-se ou, o mais frequente, levar ao rompimento (muitas vezes dramático).
Amar é oferecer e sentir-se bem com isso. Amar se aprende e a atitude amorosa deve ser construida em nós mesmos.
Na terapia de casal quando o afastamento tem como origem ou como fator mantenedor a “cobrança”, o mais indicado é que as sessões aconteçam “em separado” por um período curto, para que essa questão seja trabalhada antes do processo de desenvolvimento da relação.
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