Adoramos nossos pensamentos mágicos. Adoramos pensar que vamos ganhar na loteria, que tudo “vai dar certo”, mas é prudente manter um pneu sobressalente (estepe) cheio no carro. Curioso é que há pessoas que dirigem sem estepe e sem a habilitação!
Preferimos acreditar na “lei do retorno”, que “o universo conspira”, que nossa “energia positiva” nos protegerá, que a “divina providência” nos proverá e que “tudo está escrito”.
Quando pensamos assim vez ou outra ficamos chocados ao nos depararmos com algo inesperado (e indesejável) e nos revolta verificar que “a vida não é justa”. Não é! A vida não é justa!
A vida não é “justa” porque essa “justiça” vive em nosso mundo interior, em nossa vida espiritual; não é real.
Da mesma forma algumas pessoas fantasiam que tudo vai dar errado, que vão bater o carro, que o avião não vai conseguir decolar ou pousar, que quando sobrevoar o mar… Todos nós podemos ter esses pensamentos quando alguém querido se atrasa, mas isso indica apenas nosso cuidado com o outro e não que o outro está em risco ou está nos traindo!
Os pensamentos mágicos tangenciam as superstições. Talvez você não se impressione quando um gato preto cruza seu caminho, mas pode não gostar do mês de agosto!
Queremos explicação para tudo. Nossa mente aprende a ligar fatos e se vicia em “causa e efeito” criando esse vínculo mesmo onde ele não existe. É confortante encontrar respostas e, principalmente, é muito desconfortável não saber a resposta!
Podemos ver que os pensamentos mágicos e superstições são nossas crenças, mas é importante ressaltar que é saudável escolher acreditar em algo positivo como “vou ganhar na loteria”, sabendo que é só uma crença ou pensamento mágico ou ainda parte do nosso mundo “espiritual”. É saudável nosso mundo espiritual, gostar de poesia, ficção, etc. Muito diferente é crer que realmente isso é real, que acontecerá! Viver nosso mundo espiritual como se ele fosse a realidade é perigoso e, nesse ponto, tangenciamos as patologias mentais.
No mundo das artes isso é bastante visível; um cantor de sucesso pode saber que o sucesso deveu-se ao “marketing” bem feito, mas um outro pode não saber o porque de um grande sucesso inesperado e… criar uma explicação. Nas artes plásticas chega mesmo a ser incômoda a maneira como são descritos os trabalhos, a criação, que de tão fantasiosa se torna ininteligível..
E a intuição? Sim, percebemos inconscientemente alguns sinais e concluímos algo sobre eles, mas podemos errar nessas conclusões inconscientes da mesma forma que podemos errar em nossas conclusões racionais conscientes. Vemos isso nas redes sociais no como algumas pessoas interpretam um “post”: – “se ele escreveu isto é porque quis dizer aquilo”.
Nem mesmo nós mesmos sabemos porque escolhemos isto ou aquilo, porque dissemos isto ou aquilo porque somos motivados por emoções que muitas vezes não conhecemos bem; apesar disso é comum alguém dizer : Ela diz que não gosta de mim, mas eu SEI que ela gosta! Como pode saber se nem ela sabe? Acreditar totalmente em nossas intuições é tirar o pé da realidade. Adentrar nesse mundo desconhecido é bem comum e, considerando-o como nosso mundo espiritual, é saudável, desde que vivamos também o que chamamos “realidade”. “Se ele se virar para olhar novamente é porque ele me ama (ou é porque vamos nos casar)”; não, não obrigatoriamente.
Na psicoterapia de casal vemos frequentemente que muitas brigas se devem ao que acreditamos que o outro deveria fazer, como o outro deveria agir, isto é, nossas expectativas em relação ao comportamento do outro. Isso quer dizer que não devemos ter expectativas em relação ao comportamento de nosso par? Sim, temos e devemos ter expectativas, mas é preciso que tenhamos consciência de que são NOSSAS expectativas e, se queremos que o outro se comporte como esperamos teremos que conversar, informar sobre o que esperamos e firmar um acordo! Isso quer dizer: trazer nosso desejo (nosso mundo interior) para o mundo real.
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