O impulso sexual é fundamental à vida e, no ser humano, a atividade sexual se revestiu de roupagens belas, caras e complexas.
Além da função reprodutiva, as relações sexuais propiciam do mais simples e concreto prazer, aos mais elevados sentimentos de integração com o “outro” (o que nos completa, o que legitima nossa existência).
A objetividade que a sociedade atual exige de nós ressalta a importância primeira (e menor?) da atividade sexual: o prazer. Apenas como meio de satisfação física pode-se admitir a importância da atividade sexual, porém esse é o aspecto mais pobre, se comparado ao seu potencial de gratificação. Talvez também pela objetividade e imediatismo, o sexo expande sua função de “moeda de troca” às pessoas dos mais diversos níveis de informação e de compromisso relacional.
Na relação conjugal esse fator era, na era moderna até o meio do século passado, regulado pela distinção dos papéis entre os gêneros. Com a equiparação sócio-econômica feminina essa regulamentação caiu por terra e a atividade sexual ganhou grande destaque nas disputas intra casais. Conscientemente ou não utilizamos o sexo como moeda de troca, arma em disputas, objeto de disputa, objeto de pressão, chantagem e extorsão. Na terapia de casais não é raro que a questão sexual seja o pano de fundo de insatisfações que aparecem sob outras roupagens.
Resultados de pesquisas recentes causaram polêmica ao apontar o elevado índice de mulheres que disseram preferir um pedaço de chocolate à uma relação sexual. À primeira vista esse resultado confirma um débito feminino no conceito padrão masculino que se afirma como portador de necessidade sexual mais intensa e frequente. Um olhar mais atento revela no entanto que a mulher freqüentemente se ressente da desatenção do cônjuge mesmo que se mostre com menor disposição para a relação sexual. Paralelamente não é difícil encontrar também homens que optam pela cerveja com os amigos ao invés de um relacionamento mais íntimo e/ou intenso com sua companheira.
A mulher, como um desafio, revela que prefere chocolate ao sexo, porém já há algumas décadas o homem vem priorizando o trabalho – o peso e importância deste suplanta significativamente a vida familiar – sob uma justificativa aparentemente óbvia, mas distorcida, de que o trabalho é “para” a família como se fossem campos mutuamente excludentes.
Nessa guerra entre os gêneros deveríamos incluir o fato do número de homens que optavam por fazer sexo com outros homens ser muito superior ao de mulheres que optavam por relações homossexuais até há pouco tempo.
Na terapia de casal pergunto como está a vida sexual e com certa frequência isso é interpretado como se eu estivesse supervalorizando o sexo. De verdade podemos dizer que o sexo por si só talvez não seja de grande importância, mas observe que o sexo pode ser, muitas vezes, a materialização de todo o relacionamento. Se a atividade sexual é física, carnal, material, ela pode ser também a substancialização do mais sutil e etéreo encontro de duas pessoas, dos sentimentos de dois seres. O sexo pode expressar (ou não) a mais intensa e profunda entrega. Chegar nesse nível de entrega, porém, exige alguma dedicação.
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