O sonho fazia suar frio – um pouco aterrorizante – mas era sonho e não pesadelo.
Chegava em sua casa e logo após o portão de entrada havia uma escada com seis ou sete degraus, como havia na casa dos pais de sua primeira esposa. No alto à direita ficava a casa dos “proprietários”. O corredor à esquerda levava às casas dos fundos. Um corredor estreito então se estendia entre as quatro ou cinco casas que havia nesse quintal. Um cortiço.Sua casa era a última, grande (a sua casa real é uma boa residência com mais de 400 metros de área útil). Para chegar passava entre as outras ouvindo toda sorte de coisas, sentindo os diversos odores, esquivando-se de objetos e roupas íntimas nos varais.
Morava num cortiço!
Na vida real sua casa era isolada com bastante espaço que a separava de vizinhos nas laterais e ao fundo. No sonho pensou: – Ah! Então é por isso que foi tão fácil, por isso consegui, por isso paguei tão barato!
Como essa constatação “esclarecedora”, esse sonho trouxe (ao menos) três descobertas, como insights:
- – Morar em um cortiço: – A referência inicial das escadas da casa da primeira esposa servia de guia ao significado, já que no primeiro casamento a fusão foi intensa e a sensação de perda da identidade foi um dos fatores que contribuiu para a separação. Na época em que teve este sonho sentia-se, comparando com o casamento anterior, em um “cortiço” já que as individualidades, no segundo casamento, permaneceram bem definidas. Com isso sentia-se pouco à vontade em sua casa e com algum sentimento “de estranheza” em relação à esposa e filhos – não percebia uma unidade familiar. Como em um “cortiço” havia proximidade e mesmo exposição de intimidades, porém eram individualidades de certa forma estanques.
- – Pagou pouco: – Apesar de metafórica, essa constatação tem a importância de um insight. Percebe o menor custo dessa relação, porém a esse menor custo corresponde um menor benefício (ausência da fusão). Reavalia e valoriza o casamento anterior através desse sentimento de respeito às individualidades do casamento atual, no qual sente falta de uma maior integração ou “fusão” em uma unidade familiar.
- – A terceira descoberta está evidente em seu relato, porém foi esquecida na íntegra. Sabe que existiu, que era clara, porém não se lembra de absolutamente nada sobre ela. Como não anotou ao acordar, perdeu-a. Provavelmente ainda não há prontidão para que ela adentre à consciência. Provavelmente está a caminho. Pode ser que ressurja em suas análises ou que volte novamente em um sonho. Logo, talvez – quem sabe?
Essa conscientização, no entanto, já permitia que deixasse de culpar “o outro”, passando a trabalhar esses sentimentos ambíguos em relação à intimidade – individualidade.
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