Os nomes são variados e o sentimento pode ter também pequenas variações mas o mais importante – refletem o vínculo entre dois seres.
Em castelhano o casal é chamado de parelha. Usamos parelha, em português, para a dupla de animais que puxam uma carroça. O esforço é comum, na mesma direção e o peso é distribuído entre os dois, o que quer dizer que o esforço de um reduz o esforço do outro.
Naturalmente o equilíbrio de esforços é o ideal porque a concorrência, nessa situação pode fazer com que um puxe a maior parte do peso. Talvez pudéssemos falar também em um equilíbrio dinâmico, isto é, quando um se cansa, o outro faz um esforço maior para manter o ritmo da caminhada, porém, quando este se cansar, o segundo fará o maior esforço.
Com muita freqüência utilizamos também a palavra par; os jovens, conscientes ou não, buscam um par. Par de sapatos: diferentes mas iguais; um faz parte do outro apesar de estarem separados, serem diferentes e terem funções exclusivas: cada um calça um pé e somente esse pé. É importante destacar que a diferença pode ser sutil, porém o sentimento se transforma significativamente quando dizemos que um é parte do outroe um faz parte do outro. Ser parte pode significar ser possuído pelo outro e fazer partenão implica em posse mas sim em relatividade – ser relativo – relacionado ao outro.Pertinens – um é pertinente ao outro como em um par de sapatos no qual um pé é diferente do outro, mas sozinhos, têm sua função reduzida.
Essa pertinência (Pertinens) recebe diferentes nomes para indicar o sentimento envolvido sendo amor o mais comum. Procuramos também atributos que possam nos esclarecer o que seria o amor e elencamos: respeito, afeto, desejo, responsabilidade, reconhecimento, dedicação, companheirismo, o que nos completa, mas as palavras parecem sempre insuficientes, o que nos leva a buscar apoio em imagens figuradas como ninho, castelo, canto, enfim, um lugar onde nos sentimos em casa, seguros, aconchegados. Nesses lugares sou integralmente aceito porque dele sou parte.
Não é possível formar uma parelha se não aceito o outro nem sou aceito por ele. Com meu par (ao qual sou pertinens) me sinto seguro, forte e poderoso como em meu castelo, assim como, com meu par, me sinto protegido e aconchegado como em meuninho. Meu canto também traduz sentimento semelhante: é meu – faz parte de mim – é igual a mim e por isso me sinto totalmente bem nele. Meu canto, por outro lado, pode apresentar algum desvio do sentimento de pertinens caso implique em alguma limitação, isto é, tem algum defeito – é pequeno, acanhado, limitado, menos que eu desejava (mas mesmo assim é meu).
Por que os filmes de Hollywood fazem tanto sucesso mesmo os que não tratam do amor romântico? Por que apesar da liberação sexual e econômica feminina, ainda se busca um par?
Porque o sentimento de pertinens, se não é o primeiro, é um dos primeiros sentimentos que percebemos, ainda no útero. Somos parte da nossa mãe, que nos acolhe e nos protege. Depois do nascimento experimentamos outros sentimentos como liberdade, autonomia e também a continuidade do pertinens sempre que temos nossas qualidades reconhecidas ou nossas incríveis habilidades como, por exemplo, sorrir, dizer dá – dá, ficar em pé sem nenhum amparo. Tempos depois, buscamos um par que nos permita reconstruir aquele ninho ou castelo que guardamos em nossa memória – reconstruir o sentimento de pertinens.
Mães tendem a ter esse mesmo sentimento em relação aos filhos porque um filho é o par perfeito, isto é, realmente (fisicamente inclusive) ele faz parte e por isso o dá – dádo bebê é o mais perfeito do mundo.
Nem sempre as condições externas e principalmente diante da ordem social que vem se estabelecendo nas últimas décadas, esse sentimento é apoiado ou estimulado. Ao contrário, esse sentimento é avesso às exigências sócio-econômicas.
O que acontece quando o bebê não se sente pertinens ou, ao menos, sente um pertinens limitado, frágil? O que ele vai buscar quando adolescente ou adulto, se o seu dá – dá, não foi reconhecido como maravilhoso? Se ele não acredita em ninho nem em par, onde vai buscar reconhecimento se sente que, de quem ele queria, o reconhecimento não aconteceu?
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