A forma como se dava a formação masculina e feminina nos últimos séculos, se não definia, ao menos reforçava diferenças significativas na qualidade e força dos vínculos intra casal e familiais.
O desenvolvimento, substanciação e expressão do afeto eram estimulados nas meninas na mesma medida em que o bloqueio, restrição ao desenvolvimento e repressão o eram nos meninos. Com isso obtinha-se o resultado visível de uma aparente inconsistência nos vínculos masculinos; uma certa facilidade de rompê-los e a qualidade de mantê-los através da “responsabilidade” de cuidar como provedor.
Das inúmeras diferenças de linguagem entre o homem e a mulher, esse aspecto era o responsável pelo padrão de, diante do envolvimento sexual com outra mulher, o homem poder dizer: “não significou nada”, e a mulher se indignar: “como não significou nada? E eu, não significo nada?”.
Algumas diferenças bem visíveis:
HOMEM: Ia para fora de casa em busca do sustento/ MULHER: Ficava em casa fazendo a manutenção
HOMEM: Era formado para alcançar independência, autonomia./ MULHER: Era formada para reproduzir a família
HOMEM: Vínculo mais visível: de responsabilidade/ MULHER: Vínculo mais visível: de afeto
HOMEM: “Transferia-se” para a família de origem da esposa/ MULHER: Atraia o marido para sua família de origem (festas, comemorações)
HOMEM: Independente e solitário/ MULHER: Dependente e gregária
HOMEM: Mais “egoísta”/ MULHER: Mais “altruísta”
HOMEM: Inovação e desenvolvimento material/ MULHER: Manutenção afetiva
Hoje esses aspectos estão bem menos definidos, porém são ainda visíveis em um olhar mais cuidadoso e, alguns desses pontos são fontes significativas de atrito.
Alguns homens de hoje, com um maior desenvolvimento afetivo, podem manter os vínculos com sua família de origem, ou como “filho” ou exercitando a “responsabilidade” de sua função. Pode ocorrer que sua esposa perceba isso como sua incapacidade de atraí-lo para a nova família. Esse é um problema que pode levar á separação do casal (ou à terapia de casal), principalmente se já tiverem filhos!
Naturalmente boa parte do que estou descrevendo ocorre apenas no nível emocional, isto é, fora do alcance da consciência.
Percebendo que o marido mantém laços fortes com sua família de origem, a mulher pode “sentir” que um filho seria o fator que atrairia o marido definitivamente para a nova família. Caso ele continue muito próximo de seus pais, mesmo depois do nascimento de seu filho, pode ocorrer de sua esposa não suportar esse fato (em função de sua história pessoal) e sinta-se não querida, que ama mais do que é amada, pode sentir-se rejeitada, traída, podendo mesmo ver indícios de traição nas atitudes do marido (mesmo que infundadas).
Naturalmente estou descrevendo uma das inúmeras possibilidades já que cada pessoa reage conforme sua formação.
O homem sente-se perdido; não entende o que está ocorrendo e daí surgem as brincadeiras sobre a “mulher de lua”, “mulher de fases”. Ambos desconhecem o que está ocorrendo e brigam concretamente sobre fatores desconhecidos.
No atual estágio do desenvolvimento masculino tende a ocorrer:
1 – O homem desenvolveu-se no padrão tradicional: é autônomo, troca com facilidade sua família de origem pela sua nova família e aproxima-se mais da família de origem da esposa.
2 – O homem teve sua formação nos padrões atuais e mantém laços afetivos mais fortes com sua família de origem. Podendo então:
2.1 – manter esses laços caso isso possa ocorrer com facilidade (aceitação pela esposa)
2.2 – Ir reduzindo esses laços com a família de origem gradualmente
2.3 – Decepcionar-se com atitudes da esposa que impliquem em um afastamento dele em relação á sua família de origem, e reduzir seus laços em relação à nova família que construiu (de ocorrência menos frequente, mas gerando conflitos mais sérios)
Nos casos de um segundo casamento pode surgir um grande problema: o homem tende a manter laços com a família anterior, provocando grandes dificuldades na nova relação.
A Psicoterapia de casal permite que se amplie o conhecimento sobre os motivadores inconscientes de desentendimentos, possibilitando que conscientemente sejam geradas atitudes adequadas às necessidades do cônjuge e da relação.
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